A Universidade das Quebradas, um projeto de extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), comemora mais uma conquista significativa: a formatura de uma nova turma e uma parceria inédita com a Academia Brasileira de Letras (ABL). Desde sua criação em 2009, a iniciativa tem como missão promover o encontro de saberes acadêmicos e populares, valorizando a diversidade e as vozes oriundas das periferias.
Formatura e lançamento de livro
A cerimônia de formatura, realizada na sede da ABL, no Centro do Rio, também foi marcada pelo lançamento do livro “Suassuna Quebradeiro”. A obra, que reúne 46 textos produzidos pelos alunos durante os seis meses de curso, propõe um diálogo entre o universo do renomado escritor Ariano Suassuna e as histórias que poderiam surgir nas quebradas do Rio de Janeiro. Os textos exploram diferentes formas literárias, como contos, poesias e até uma peça de teatro, escritas tanto de forma individual quanto em grupo.
Drica Madeira, coordenadora pedagógica do projeto, destacou a proposta do curso: “A missão aqui não é apenas ensinar, mas aprender com os quebradeiros e quebradeiras. A troca de saberes é o que realmente enriquece essa experiência”.
Legado de Heloísa Teixeira
A formatura foi especialmente significativa, pois foi a primeira após a morte da escritora Heloísa Teixeira, uma das fundadoras da Universidade das Quebradas e imortal da ABL. Durante a cerimônia, o nome de Heloísa foi reverenciado, com os participantes gritando “Heloísa, presente!” em várias ocasiões. O legado da escritora, que sempre defendeu a importância da inclusão das vozes da periferia na literatura, foi um dos pilares discutidos durante a solenidade.
Entre os formandos, estavam não apenas jovens que se apaixonaram pela literatura desde a infância, mas também escritores com trajetórias acadêmicas consolidada, como Wagner Bezerra, que possui mestrado e doutorado em comunicação. Ele compartilhou uma reflexão profunda sobre a essência do que significa ser da quebrada: “Nós usamos a tecnologia mais poderosa de todas, que é saber ouvir”.
Encontros com grandes nomes da cultura
Os alunos do curso tiveram a oportunidade de participar de aulas com grandes referências da literatura e cultura brasileira. Nesta turma especial, por exemplo, houve encontros com Gilberto Gil, que trouxeram uma dimensão ainda mais rica ao aprendizado dos participantes. A presença da escritora Ana Maria Gonçalves, a primeira mulher negra a ser eleita para a ABL, também fez parte da celebração. Ela enfatizou a relevância dessa parceria: “As vozes da periferia vêm para agregar à literatura nacional, que deve ser composta por todas as vozes e experiências”.
Um novo começo para os escritores
Embora a formatura represente uma fase de fechamento, Drica Madeira enfatizou que ela também simboliza o início de novas trajetórias literárias para os formandos. “Esses escritores já existiam antes do curso, mas agora eles saem daqui equipados com um repertório muito mais robusto para dialogar sobre o que sabem e quem são, contando com a autoridade da ABL e da UFRJ”. Essa formação não apenas fortalece as habilidades literárias dos alunos, mas também amplia a visibilidade de suas vozes e histórias.
O evento destaca a importância de iniciativas como a Universidade das Quebradas, que não apenas educam, mas também inspiram e abrem espaços para que as narrativas das periferias encontrem seu lugar no cenário literário nacional. Com mais de 500 escritores formados ao longo dos anos, o projeto continua a ser um farol de esperança e criatividade, comprovando que a literatura pode ser um vetor de transformação social.
À medida que esses novos escritores dão seus primeiros passos em suas jornadas literárias, é certo que o impacto do projeto e o legado de Heloísa Teixeira continuarão a ecoar nas páginas que ainda estão por vir.