No último domingo (13), o prefeito de São Bernardo do Campo, Marcelo Lima (Podemos), após uma controversa decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que lhe permitiu retomar suas funções, participou de uma missa no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. Ao seu lado estava a vice-prefeita Jéssica Cormick (Avante). A cerimônia se destacou pela forte crítica à corrupção, feita pelo bispo de Santo André, dom Pedro Carlos Cipollini, que chamou a corrupção de “dragão que devora as pessoas”.
Contexto da Investigação e Afastamento
Marcelo Lima foi afastado do cargo em agosto, após ser investigado pela Polícia Federal (PF) por suspeitas de envolvimento em um esquema de corrupção e ocultação de patrimônio. A Operação Estafeta, que levou ao seu afastamento, revelou a existência de aproximadamente R$ 14 milhões em valores, incluindo dólares, encontrados com um de seus servidores, Paulo Iran, apontado como operador financeiro do prefeito.
Durante o seu afastamento, diversas restrições foram impostas a Lima, incluindo uso de tornozeleira eletrônica e limitação de circulação. As investigações indicaram que ele tinha relações muito próximas com o servidor investigado, que pagava despesas de Lima e de sua família. A Polícia Federal também apontou indícios de corrupção nos contratos em áreas como obras, saúde e manutenção.
Discurso Contra Corrupção na Missa
Durante a missa, o bispo Cipollini fez um discurso incisivo contra a corrupção. “A corrupção é um dragão que devora as pessoas”, afirmou. Ele criticou a mentalidade de levar vantagem em tudo, ressaltando que essa visão acaba por prejudicar toda a sociedade. A fala do bispo foi recebida com aplausos, incluindo os do prefeito Marcelo Lima.
Dom Pedro defendeu que o Brasil, sendo um país rico, possui recursos para resolver seus problemas sociais. No entanto, enfatizou que os desvios de conduta e a corrupção criam entraves significativos para o desenvolvimento do país. “O Brasil estará bem quando o povo estiver feliz”, concluiu o bispo, pedindo a intercessão de Nossa Senhora Aparecida por um país mais justo.
Retorno ao Cargo e Medidas do STJ
Após a decisão do STJ em revogar as medidas cautelares que o afastavam do cargo, Marcelo Lima retornou à Prefeitura de São Bernardo na sexta-feira (10) e foi recebido por Jéssica Cormick. O tribunal reconheceu que o afastamento por um ano foi desproporcional e que não havia mais riscos para as investigações em andamento.
A decisão, proferida pelo ministro Reynaldo Soares da Fonseca, argumentou que manter Lima afastado por tanto tempo sem condenação e sem base legal pertencia a uma “cassação judicial temporária do mandato eletivo”. Com a revogação das medidas, Lima agora poderá circular livremente pelo estado de São Paulo, embora tenha que informar à Justiça caso necessite se ausentar por mais de sete dias.
Continuação das Investigações
Embora Marcelo Lima tenha retornado ao seu cargo, as investigações da PF ainda estão em andamento. O primo do prefeito, vereador Danilo Lima Ramos, permanece afastado da presidência da Câmara Municipal de São Bernardo. A auditoria nos contratos da prefeitura, que foi uma das primeiras medidas adotadas pela vice-prefeita durante o afastamento de Lima, ainda está sendo finalizada.
O clima na cidade é de expectativa. Moradores e autoridades locais se questionam sobre as implicações das investigações e do retorno de Lima ao poder. Apesar das promessas de transparência e de um governo voltado para a comunidade, os efeitos da corrupção ainda pairam sobre a administração pública.
A participação de Lima em atos religiosos e suas interações com a comunidade em meio a um contexto tão delicado traz à tona a discussão sobre ética e responsabilidade na política. As críticas levantadas durante a missa refletem um sentimento mais amplo sobre a necessidade de mudanças no modo como os gestores públicos lidam com a corrupção e a governança.
O caso de Marcelo Lima é emblemático da luta contra a corrupção no Brasil e serve como um lembrete da vigilância necessária por parte da sociedade sobre seus representantes. O melhor seria que a fé fosse um aliado da ética e da transparência, em vez de um cenário simultâneo a investigações de conduta duvidosa.