Brasil, 13 de outubro de 2025
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China muda estratégia com EUA e impõe restrições às terras raras

Mudança na relação entre China e EUA afeta comércio global, particularmente nas terras raras, com impactos econômicos e geopolíticos

A China adotou uma postura mais restritiva em relação ao comércio com os Estados Unidos, especialmente na exportação de terras raras, ponto crucial nas negociações entre as duas potências. A decisão, ainda pouco explicada oficialmente, ocorreu após encontros em maio, em Genebra, e junho, em Londres, que indicavam uma tentativa de diálogo e aproximação. Segundo o economista Roberto Dumas, professor de economia chinesa do Insper, a reação de Pequim com restrições às terras raras ainda é um mistério. Enquanto isso, os EUA reagiram com uma sobretaxa de 100% sobre produtos chineses, uma medida que já era aguardada.

Impactos econômicos e estratégias chinesas na guerra comercial

De acordo com Dumas, os efeitos dessa nova postura da China já começam a surgir na curva de juros dos EUA, que apresenta uma tendência de alta. O mercado precifica a possibilidade de Pequim vender parte de seus títulos americanos, o que encarece a dívida pública e pressiona a inflação americana. “O primeiro efeito já aparece na curva de longo prazo dos juros, que começa a subir, refletindo a incerteza no mercado”, explicou.

A inflação nos Estados Unidos atinge 2,9%, acima da meta de 2%, podendo chegar a 3,5%, segundo o especialista. “Para o americano, isso é muito. O planejamento financeiro de uma família lá é de dez anos, e uma inflação elevada pode até derrubar um governo. A China deu uma cartada pesada”, avalia Dumas.

Repercussões na economia mundial e nova rota comercial chinesa

O aumento das tarifas, que chegam a 157%, configura um verdadeiro embargo, enquanto a China admite que a economia será afetada, mas com menos intensidade. “Vai dar uma beliscada”, afirma o economista, destacando que, na estrutura autoritária chinesa, tensões sociais e câmbio são controlados “na marra”. A China, que encontra uma situação de deflação, usa essa condição para fortalecer as exportações e busca novas rotas comerciais para escoar seus produtos, que antes eram destinados aos EUA.

Antes mesmo do anúncio mais recente, Pequim já havia interrompido compras de sorgo e soja dos EUA, o que fez dobrar as exportações brasileiras e argentinas. Produtos que antes eram enviados aos EUA estão sendo redirecionados para a Europa e Brasil. A guerra comercial é vista por alguns como uma vantagem para produtores de commodities agrícolas, porém prejudica a indústria, especialmente se o Brasil for inundado por produtos chineses, como carros elétricos.

Terra rara e tecnologia: estratégia chinesa de controle

Desde 2022, a China já buscava controlar a cadeia de suprimentos de tecnologias avançadas, como inteligência artificial e semicondutores, em um movimento anunciado durante o 20º Congresso do Partido Comunista. O objetivo oficial é resistir à política americana “Small Yard, High Fence”, que restringe exportações de tecnologias críticas à China. Apesar disso, Pequim continuou discutindo o comércio de terras raras com os EUA. “É difícil entender o que motivou essa reviravolta, já que Trump e Xi Jinping vinham sendo cordiais”, afirma Dumas.

A resposta chinesa, que limita as exportações de terras raras — responsáveis por 70% da produção global, cerca de 270 mil toneladas e US$ 170 milhões —, destaca seu poder estratégico na cadeia global. O Brasil, por exemplo, produz apenas 20 toneladas. “Não é que as terras raras sejam raras de fato, mas a extração é complexa e leva de cinco a dez anos para se implementar um projeto”, ressalta o especialista. Isso reforça a importância de diversificar fornecedores e rotas comerciais no cenário atual.

Consequências e próximos passos na escalada de tensions

O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, afirmou que ainda espera um encontro entre Trump e Xi Jinping, mas alertou que “todas as opções estão sobre a mesa” para retaliar a decisão chinesa. Segundo ele, houve “comunicação substancial” entre representantes dos dois países no fim de semana. A situação mostra uma escalada na tensão, com possibilidades de retaliação mais duras e consequências para o comércio global.

O movimento da China representa uma estratégia de fortalecimento de sua posição, ao mesmo tempo em que sinaliza que não aceitará imposições dos EUA sem resposta. Para Dumas, essa mudança de postura pode impactar ainda mais o equilíbrio de poder na cadeia de suprimentos global de tecnologia e minerais estratégicos, reforçando a importância de entender a geopolítica das terras raras neste momento crítico.

Fonte: O Globo

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