Brasil, 13 de outubro de 2025
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Como a moralidade vertical explica as ações dos cristãos MAGA

Entenda o conceito de moralidade vertical e como ele justifica comportamentos contraditórios na política e religião dos apoiadores de Trump

Para muitos brasileiros, a união entre ensinamentos cristãos de amor e as ações de apoiadores de Trump, conhecidos como MAGA, é difícil de compreender. Como pessoas que professam fé em Jesus, que pregou misericórdia e compaixão, apoiam políticas que deterioram direitos humanos e fomentam a intolerância?

O que é moralidade vertical?

A moralidade vertical é uma estrutura ética que avalia o certo e o errado com base em uma autoridade superior, seja Deus, um líder autoritário ou uma figura de poder. Segundo Tia Levings, ex-fundamentalista cristã, essa visão entende que as ações são corretas ou incorretas apenas se aprovadas por essa autoridade, independentemente das consequências para os demais. Mais detalhes podem ser encontrados aqui.

Na religião, esse “superior” é Deus. Na política ou em grupos fechados, pode ser um ditador ou um líder carismático. O ponto central é que a moralidade não se mede pelo bem-estar alheio, mas pela obediência às regras impostas de cima para baixo.

Diferença entre moralidade vertical e horizontal

Enquanto a moralidade horizontal prioriza o cuidado com o próximo, promovendo empatia, compaixão e ações para o bem comum, a vertical se baseia na obediência cega às ordens externas. A advogada April Ajoy explica que a moralidade horizontal busca o impacto positivo nas relações humanas, enquanto a vertical justifica ações equivocadas como uma obrigação divina.

“Jesus falou de amor ao próximo, de perdoar e ser compassivo. Mas, sob uma vertente vertical, a moralidade é distorcida, pois a prioridade passa a ser agradar a Deus independentemente do dano causado ao outro”, analisa Ajoy.

Como a moralidade vertical influencia a política

De acordo com especialistas, essa orientação ética ajuda a compreender o comportamento de grupos políticos conservadores que justificam crueldades sob o pretexto de obedecer à vontade divina. Levings destaca que essa visão aumenta o risco de manipulação, já que quem está no topo tem o controle absoluto e é protegido de críticas.

Historicamente, a moralidade vertical foi usada para justificar a escravidão e o racismo, como lembra Klinger Cain. “O caso de Abraham, que foi elogiado por dispor de seu filho Isaac por ordem divina, exemplifica a lógica de que a obediência a uma autoridade superior é prioridade, mesmo que vá contra o senso comum de justiça e compaixão”, ela explica.

Perigos dessa postura moral

Essa visão autoritária raramente leva em conta fatos ou evidências e, muitas vezes, exclui a diversidade de opiniões. Levings reforça que ela é incompatível com o mundo moderno, resistindo a mudanças e novas informações, o que dificulta o avanço social e civilizatório.

Na prática, essa moralidade incentiva comportamentos na linha do “segmento de Deus” e costuma demonizar quem pensa diferente, inclusive usando passagens bíblicas fora de contexto para justificar injustiças. Hale alerta que isso cria uma cultura de indiferença às dores do outro, alimentando uma sociedade cada vez mais excludente.

Por que muitas pessoas se atraem por essa moralidade rígida?

Para Cain, o medo e a incerteza social levam muitos a buscar respostas simples e seguras. A moralidade vertical oferece uma solução rápida, que dá uma sensação de controle e esperança frente às mudanças culturais aceleradas.

A líder religiosa também aponta que, em tempos complexos, preferir regras fixas e uma autoridade inquestionável é uma forma de escapar do desconforto de refletir sobre injustiças ou desigualdades.

Conseqüências na prática social e política

Essa lógica pode justificar ações cruéis, como a punição severa de imigrantes ou a negação de direitos civis, sob o argumento de obediência a uma moral superior. Cain destaca que, na postura vertical, a legitimidade vem do fato de estar “do lado de Deus”, mesmo que isso signifique desrespeitar princípios básicos de justiça e empatia.

Para Hale, essa postura também desvaloriza o papel da empatia, que é vista por alguns como “pecado” ou “tóxico”. “Se Abraham tivesse sentido empatia ao evidenciar o amor ao próximo, talvez a história fosse diferente”, ela pondera.

O futuro da moralidade na sociedade

Analistas alertam que o excesso de verticalidade impede o crescimento ético e social. “Quando a moralidade se limita a seguir ordens externas, ela se torna uma arma de manipulação, afastando-se dos valores de amor e solidariedade ensinados por Jesus”, conclui Levings.

A advogada Hale reforça que a verdadeira ética cristã deve equilibrar a obediência à divindade com o amor ao próximo, promovendo ações concretas e inclusivas. “Senão, corremos o risco de termos uma sociedade cristã, mas sem os valores essenciais de compaixão e justiça”, ela finaliza.

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