A crise social no Brasil reflete-se no aumento do número de pessoas em situação de rua, que já atingem cerca de 350 mil, segundo dados do Cadastro Único (CadÚnico). Entre as principais causas, destacam-se conflitos familiares, desemprego, dependência de álcool e drogas, além do déficit habitacional crescente no país.
Principais fatores que levam à rua
Segundo especialistas, conflitos familiares são responsáveis por uma parcela significativa das pessoas que deixam suas casas.
— Rico quando tem conflito familiar, se muda, o pobre vai para a rua — explica Laura Muller Machado, professora do Insper.
Ela reforça a importância de ações rápidas para prevenir a situação de rua, pois a reintegração torna-se mais difícil com o tempo.
Desemprego e falta de moradia em números
Dados da Fundação João Pinheiro indicam que, em 2023, 61,3% do déficit habitacional brasileiro estavam relacionados ao alto custo do aluguel, que responde por mais de 30% do desconto no orçamento de famílias com renda até três salários mínimos.
– Em 2016, essa proporção era de 49,7%.
A dificuldade de pagar aluguel onera a população e impulsiona mais famílias às ruas, especialmente em um contexto de crise econômica e desemprego.
Programas sociais e insuficiências
Embora o Brasil ofereça programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, essa rede de apoio ainda não abrange toda a população em condição de rua. Em 2024, cerca de 44 mil pessoas nessa situação permaneciam fora do benefício, mesmo sendo 85% do público cadastrado no CadÚnico.
O Benefício de Prestação Continuada (BPC), que contempla idosos e pessoas com deficiência de baixa renda, também não chega a todos os que têm direito: apenas 32% estão incluídos.
Dependência química e ações de assistência
Outro fator apontado por registros do CadÚnico é a dependência de álcool e drogas. Quase 30% da população em situação de rua está relacionada a esse motivo, o que provoca políticas específicas, como comunidades terapêuticas.
— Os governantes e secretários de assistência social precisam compreender melhor essa população. Investir apenas em comunidades terapêuticas não resolve o problema — alerta Joana Darc Bazílio da Cruz, coordenadora do Movimento Nacional da População em Situação de Rua.
Casos reais: histórias de vulnerabilidade e esperança
Lenilson Ferreira de Azevedo, desempregado, e sua esposa, Rosineide, vivem há quatro meses na Praça XV, no Rio. Após não conseguirem pagar o aluguel e deixarem seus eletrodomésticos como pagamento de dívidas, optaram por morar na rua, preferindo a segurança conhecida do ponto onde ele trabalha vendendo roupas ambulantemente.
— Nos abrigos, tem brigas, e nossas coisas desaparecem — afirma Lenilson.
Eles tentam o Bolsa Família e aguardam respostas para melhorar de vida, enquanto insistem na esperança de retomar uma moradia digna.
Outra história é a de Érica Aparecida Silva Augusto, que vive na rua há mais de 30 anos. Articulada e conhecida na população de rua do Centro do Rio, ela rejeita os abrigos pelas limitações de horário e pelo risco de perder sua liberdade de leitura e convivência na rua.
— Procurei na rua o que não achei em casa — explica Érica, que mantém um caderno de estudos sobre a história brasileira e ajuda em grupos de apoio à rua.
Políticas públicas e futuras ações
Instituições brasileiras têm ampliado ações de acolhimento, com mais vagas de moradia e equipes do programa Consultório na Rua, que atendem pessoas em vulnerabilidade. Em 2025, o Rio de Janeiro já conta com 15 equipes, com meta de chegar a 20 até o final do ano, e um total de 14 mil pessoas atendidas.
Para combater a crise, o Brasil tem investido em programas como o Moradia Cidadã, com unidades em várias cidades, e programas de moradia transitória, como o Vila Reencontro, em São Paulo.
— Essas iniciativas são essenciais para reintegrar a população de rua à sociedade, oferecendo moradia, saúde e apoio social — avalia especialista.
Perspectivas e desafios
Apesar dos avanços, a demanda por políticas de inclusão social ainda é enorme. A parceria entre assistência social, saúde e habitação precisa ser fortalecida para reduzir o número de pessoas vivendo em verdadeira emergência social.
A integração de serviços e uma abordagem mais humanizada são passos fundamentais para reverter essa triste realidade que afeta milhares de brasileiros.
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