Joana Darc Bazílio da Cruz, de 40 anos, e Marcelo Cristiano Soares Pessanha, de 49, conseguiram sair da rua, recomeçar suas vidas e formar suas próprias famílias. Apesar das dificuldades, seus relatos ilustram que a superação social é uma jornada complexa, especialmente quanto mais tempo uma pessoa passa vulnerável nesta condição. Pesquisa mostra que 36,4% das pessoas em situação de rua estão há até seis meses nessa condição, enquanto 10% permanecem por mais de dez anos.
Marcelo Pessanha: da rua às oportunidades
Marcelo foi abandonado pela família após a morte da mãe, aos 12 anos, e, ao longo da vida, enfrentou conflitos familiares, dependência química e exclusão social. Ele relata que a perdição começou após a morte da mãe, com acusações e abandono, levando-o a morar debaixo de um viaduto no Irajá, zona norte do Rio, e a frequentar um centro pop para alimentação e banho. “Como é que você deita, em sã consciência, num chão cheio de poeira, com barata, com rato passando, e dorme? Só alcoolizado. Não tem como. A cachaça se torna um parceiro do dia a dia”, descreve.
Marcelo tentou manter empregos como pedreiro e garçom, teve quatro filhos, mas a dependência química o impediu de sustentar os laços familiares e empregos fixos. Sua trajetória é marcada por episódios de crise, isolamento e convívio com o álcool. Nos últimos anos, encontrou apoio em uma instituição religiosa que ajuda dependentes de álcool, o que foi fundamental para iniciar sua caminhada de recuperação.
Hoje, Marcelo reside em um apartamento, após passar por um albergue e conseguir uma oportunidade de trabalho novamente. Ele é acompanhado pela assistente social Jaqueline Medeiros, que o auxilia na reintegração social. “Quando volto aos lugares onde frequentava na rua, as pessoas não me reconhecem. Somos invisíveis”, afirma.
Joana: a trajetória de superação e cuidado com os filhos
Joana viveu dez anos na rua em Brasília, desde os 12 anos, após perder a mãe vítima de homicídio e enfrentar uma convivência difícil com a irmã e o pai falecido. Ela saiu de casa pela primeira vez ainda adolescente, em busca de proteção e autonomia. Após períodos em centros de acolhimento, conseguiu encontrar apoio na assistência social e na moradia comunitária.
Com o apoio do Cadastro Único, Joana reformou uma casa deixada pelo pai e pôde criar seus oito filhos. Nos anos em que esteve no risco social, ela teve que abrir mão de alguns deles, mas hoje, com o suporte social, está criando as crianças e conciliando o trabalho na Fundação Oswaldo Cruz e coordenação do Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR). “Não pude criar meus primeiros filhos, agora estou podendo criar os mais novos”, relata.
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Hoje, Joana é agente facilitadora da Fundação Oswaldo Cruz e trabalha na coordenação do MNPR, desempenhando papel ativo na luta contra as vulnerabilidades sociais. “Foi muito difícil, tive acompanhamento psicológico e crises de síndrome de pânico, mas estou podendo criar minhas filhas agora”, diz. Ela reforça que a assistência social e o apoio institucional são essenciais para quem deseja recomeçar.
Perspectivas e desafios da reinserção social
Apesar dos exemplos de superação de Joana e Marcelo, especialistas destacam que a reinserção social é um processo complexo, que exige ações integradas de políticas públicas, apoio psicológico, acesso à moradia e oportunidades de trabalho. Quanto mais tempo o indivíduo permanece na vulnerabilidade, menores as chances de saída, reforçando a necessidade de intervenções rápidas e eficientes.
As histórias de Joana e Marcelo reforçam que, com empenho, apoio adequado e uma rede de suporte, a transformação social é possível, oferecendo esperança para milhares de pessoas que ainda vivem em situação de rua no Brasil. O desafio é ampliar as políticas de inclusão e garantir que esses exemplos positivos inspirem ações concretas.
Para saber mais sobre as condições de vulnerabilidade social no país, acesse o mapa interativo de renda per capita das cidades brasileiras.
Fonte: GLOBO