Em uma nova abordagem sobre a segurança pública, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem intensificado suas declarações sobre o combate a múltiplas formas de criminalidade, em um momento em que a Polícia Federal realiza operações de grande escala. Essa mudança no discurso do petista ocorre após operações significativas contra organizações criminosas, incluindo o Primeiro Comando da Capital (PCC) e casos de exploração sexual infantil. Essa estratégia parece ser uma tentativa da esquerda de recuperar uma pauta que, nos últimos anos, foi dominada pela direita, especialmente em um ano eleitoral que se aproxima, onde os embates com adversários como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), estão previstos.
Aumento da preocupação popular com a violência
O pano de fundo dessa guinada política é o crescente descontentamento da população brasileira em relação à violência. Segundo a pesquisa Genial/Quaest realizada na semana passada, a segurança pública é destacada como a maior preocupação do país, com 31% dos entrevistados a citando como prioridade — o percentual mais elevado em um ano. Esse número é ainda maior entre aqueles que se identificam como apoiadores de Lula (36%) ou como eleitores de esquerda não-lulistas (35%).
Essa mudança de foco na percepção popular em relação à segurança pública se destaca quando comparada a quatro anos atrás, durante o mandato de Jair Bolsonaro (PL). Naquele período, a violência foi mencionada como a maior preocupação por apenas 2% dos entrevistados, enquanto questões relacionadas à economia (44%) e saúde (24%) eram mais predominantes. Ao longo do tempo, o cenário mudou, com um aumento significativo na preocupação com a segurança, enquanto outros temas foram se tornando menos urgentes.
Lula e suas declarações sobre a segurança
Um exemplo claro da nova postura de Lula ocorreu na última quarta-feira, quando a PF, em colaboração com polícias de 16 estados, realizou uma megaoperação contra a exploração sexual infantil. O presidente celebrou a ação, referindo-se aos criminosos como “gente safada”, fortalecendo seu discurso de combate a esse tipo de crime. Ele enfatizou: “O que não falta é gente safada nesse país para fazer coisa errada. Essa gente tem que ir para a cadeia.”
No mês de agosto, ao comentar sobre uma operação contra o PCC, Lula descreveu a ação como “a maior resposta do Estado ao crime organizado de nossa história até aqui.” O fato de que o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, também tem frequentemente aparecido após as operações indica uma mobilização do governo em torno desta temática. A pasta da Fazenda, sob a liderança de Fernando Haddad, também se engajou, com a Receita Federal criando uma delegacia específica para investigar crimes relacionados ao tema.
A mudança de foco do governo e a resposta da direita
Anteriormente, aliados de Lula expressavam críticas sobre a falta de atenção do presidente à questão da segurança pública, um assunto que é tido como vital pela sociedade. O cientista político Marco Antonio Teixeira, professor da FGV, observa que essa evolução na postura do governo é significativa: “É uma pauta que a esquerda sempre teve dificuldade de tocar, mas agora o governo está tocando com resposta de política pública.” Teixeira destaca que essa abordagem é fundamental, à medida que reflete a expectativa da população, conforme indicado nas pesquisas. Tradicionalmente, essa resposta vinha da direita, mesmo com o PT no governo.
O ímpeto do governo Lula em lidar com casos de destaque gerou disputas políticas com Tarcísio e sua administração, resultando em diversas tensões. Um exemplo notável foi a investigação sobre lavagem de dinheiro pelo PCC, onde tanto o governo federal quanto o paulista realizaron coletivas de imprensa ao mesmo tempo, cada um reivindicando o crédito pela operação. Em relação a outros incidentes, como o metanol, a Polícia Federal levantou questões sobre o possível envolvimento do PCC, embora isso tenha sido desconversado por Tarcísio.
Desafios e novas diretrizes políticas
Nos últimos meses, o governo Lula também adotou uma postura crítica em relação a propostas que beneficiam a classe política no Congresso, uma mudança significativa após o PT ter enfrentado o impacto do discurso anticorrupção. O presidente utilizou essa situação para capitalizar politicamente contra a oposição, vetando mudanças na Lei da Ficha Limpa e se opondo a aumentar o número de deputados.
Com todas essas movimentações, Lula parece estar se reposicionando em uma área crítica da política brasileira, onde os desafios são muitos, mas as oportunidades para reconectar-se com a população também são significativas. A proximidade das eleições e a crescente preocupação com a segurança pública podem se revelar como um divisor de águas para o governo e para o futuro do PT nas próximas disputas eleitorais.