Uma nova droga, 50 vezes mais potente que o fentanil, foi identificada pelo Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) da Unicamp. O composto, chamado N-pirrolidino protonitazeno, é um opioide sintético da classe dos nitazenos e foi encontrado pela primeira vez no Brasil em um paciente que apresentou sintomas de intoxicação grave após consumir ecstasy. Este caso alarmante foi atendido no Hospital de Clínicas (HC) em Campinas, São Paulo, e levanta preocupações significativas sobre o uso de substâncias perigosas no país.
O caso e a identificação da substância
O paciente, que deu entrada no HC em 19 de junho, começou a apresentar sonolência extrema seguida de perda de consciência. Diante da gravidade da situação, recebeu naloxona, um antídoto comum para intoxicações por opioides, o que destaca a urgência do atendimento. O CIATox notificou o Sistema de Alerta Rápido sobre Drogas do Brasil (SAR) em 10 de julho, e a Anvisa adicionou a substância à lista de proibições em 29 de julho.
José Luiz da Costa, coordenador do CIATox, informou que o N-pirrolidino protonitazeno estava misturado ao ecstasy consumido pelo paciente, aumentando seu potencial letal. Em altas concentrações, essa substância pode causar uma depressão severa do sistema nervoso central, levando até à parada respiratória e risco de morte.
Riscos e consequências do uso de nitazenos
O perigo associado ao N-pirrolidino protonitazeno realça a questão mais ampla sobre a segurança das novas substâncias psicoativas (NSP). O pesquisador Costa explicou que, embora alguns nitazenos tenham sido originalmente considerados para uso como analgésicos, eles nunca foram comercializados devido à sua toxicidade elevada. O fato do N-pirrolidino protonitazeno nunca ter sido testado em humanos agrava ainda mais a situação.
A falta de conhecimento entre os usuários sobre as substâncias que consomem é uma questão crítica levantada pelo CIATox. Muitos não têm noção dos riscos que correm, principalmente em relação a misturas perigosas com antidepressivos e outras drogas. A combinação de substâncias pode resultar em efeitos adversos inesperados, exacerbando os riscos à saúde.
Pesquisa sobre o uso de substâncias psicoativas
Uma pesquisa realizada pelo CIATox em parceria com o Ministério da Justiça, que analisa a composição da saliva de usuários em festas, revelou dados preocupantes: 70,8% dos participantes admitiram o uso de substâncias ilícitas, e a maioria não tinha ideia das substâncias detectadas em seus corpos. Entre os compostos mais comuns estavam MDMA, cocaína e metanfetamina, além de novos psicoativos como MDEA e desclorocetamina.
Políticas de redução de danos necessárias
A situação atual evidencia uma lacuna nas políticas de redução de danos no Brasil. O coordenador do CIATox defende a necessidade de avançar na testagem de substâncias, sugerindo que a implementação de testes colorimétricos poderia ajudar a identificar drogas perigosas. No entanto, esses métodos são mais efetivos com substâncias tradicionais e não conseguem distinguir entre as novas drogas, como os nitazenos.
Este alerta se torna ainda mais pertinente à medida que o Brasil enfrenta desafios crescentes relacionados ao uso de drogas e suas consequências para a saúde pública. É imperativo que haja uma resposta organizada e eficaz para prevenir casos futuros de intoxicação e promover a conscientização sobre os riscos associados ao uso de substâncias psicoativas.
O fenômeno do uso de drogas misturadas e desconhecidas exige um olhar atento das autoridades e da sociedade. A conscientização e a educação são essenciais para mitigar os danos e fornecer informações precisas aos usuários, que muitas vezes consomem substâncias sem um entendimento claro de suas composições e efeitos.
Como sociedade, a compreensão da complexidade do uso de substâncias e a implementação de políticas informadas são passos fundamentais para garantir a proteção da saúde pública e reduzir os riscos associados ao uso de novos psicoativos que, como o N-pirrolidino protonitazeno, demonstram ser extremamente perigosos.
Para mais informações sobre a situação e políticas de saúde pública, acesse a página do g1 Campinas.