A recente ligação telefônica entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump, realizada na última segunda-feira (6/10), trouxe um sopro de esperança para as indústrias exportadoras de café e carne bovina do Brasil. Durante a conversa, o chefe do Executivo brasileiro solicitou a revisão das sobretaxas de 40% impostas a produtos brasileiros e a revogação de sanções contra autoridades. Este contato oficial marca um desdobramento significativo nas relações comerciais entre os dois países, que enfrentam tempos turbulentos.
Acordo para negociações
Após o primeiro aceno oficial entre os dois líderes, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, contatou o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, na quinta-feira (9/10), dando início às negociações sobre as tarifas elevadas. Durante esta conversa, foi acertada uma reunião presencial entre as equipes dos dois países em Washington, embora uma data exata ainda não tenha sido definida.
Para mediar as negociações, Vieira foi designado por Lula, enquanto Rubio representa Trump. Além deles, também estão envolvidos o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
A Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham) considera que essa abertura ao diálogo é um passo fundamental para reequilibrar o comércio, especialmente após observar a queda nas exportações brasileiras.
“Esperamos que o diálogo entre os presidentes abra caminho para negociações que devolvam previsibilidade e permitam preservar e expandir o comércio e os investimentos bilaterais”, afirmou Abrão Neto, presidente da Amcham.
A Amcham também destaca que as tarifas impostas pelos EUA exacerbam o desequilíbrio comercial entre os países. Um levantamento realizado pela instituição revelou que, em setembro, as exportações brasileiras caíram 20,3%, com uma queda acentuada de 25,7% nos produtos que sofreram as novas sobretaxas, enquanto itens isentos tiveram um crescimento de 12,3%.
Comércio entre Brasil e EUA
No acumulado de janeiro a setembro, as vendas brasileiras recuaram 0,6%, ao passo que as importações de produtos americanos cresceram 11,8%, resultando em um superávit dos EUA de US$ 5,1 bilhões.
A elevação das tarifas de importação para 50%, aplicada sobre parte das exportações do Brasil, foi anunciada em 30 de julho e entrou em vigor em 6 de agosto por meio de uma ordem executiva de Trump. O governo americano justificou essa decisão alegando preocupações com a segurança nacional e com a situação dos direitos humanos no Brasil.
- A taxa inclui uma sobretaxa de 40% sobre os 10% já existentes, em um que o governo dos EUA denomina “ajuste recíproco” nas tarifas com seus principais parceiros comerciais.
- Trump afirmou que o governo brasileiro estaria promovendo perseguições políticas contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados, fato que, segundo ele, comprometeria os direitos humanos.
- Desde o anúncio das novas tarifas, o governo brasileiro tem tentado negociar a diminuição dessas taxas, mas enfrenta dificuldades, principalmente por conta de intervenções por parte do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
O impacto no café e na carne bovina
De acordo com Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o contato inicial entre os líderes é “muito positivo” e abre a perspectiva de negociações. Ele observa que a ausência do café brasileiro no mercado global e as tarifas geraram um aumento de preços e um impacto negativo nas exportações.
“O impacto da ausência do café brasileiro e o ruído que gerou em todo o mercado global ao impor uma tarifa ao Brasil, que é o maior produtor e exportador da bebida, aumentou os preços”, afirmou Matos.
Em setembro, as exportações brasileiras de café para os Estados Unidos caíram drasticamente, com uma redução de 52,8% em comparação ao mesmo período do ano anterior, somando apenas 332 mil sacas de café.
O setor de carne bovina, que ainda lidera como o maior exportador global do produto, também mantém um otimismo cauteloso. Fontes desse setor acreditam que, com a continuidade de uma boa relação entre os presidentes, pode haver uma reversão das tarifas até o final do ano. A pressão dos importadores, devido à escassez de carne e à alta dos preços no mercado, reforça essa expectativa.
Em setembro, mesmo com as tarifas impostas, o Brasil alcançou um recorde de exportações de carne bovina, totalizando 352 mil toneladas, um aumento significativo em relação ao mesmo mês do ano anterior.
A diversificação das vendas para outros mercados, principalmente a China, que é a maior compradora da carne brasileira, tem contribuído para este resultado positivo, atenuando o impacto das tarifas.
Como se vê, a expectativa em relação às negociações entre Brasil e EUA é alta, e o compromisso de ambos os presidentes, além das interações entre suas equipes, poderá moldar o futuro das exportações brasileiras.