Em um episódio recente do The Charlie Kirk Show, Erika Kirk, esposa do polêmico Charlie Kirk, declarou que a mulher deve ser principalmente a guardiã do lar, reforçando valores tradicionais cristãos e conservadores. No entanto, sua nova posição como CEO de uma grande organização levanta dúvidas sobre a compatibilidade entre esse discurso e a realidade econômica atual.
O papel da mulher na “união bíblica”
Durante a entrevista, Erika afirmou que “seu marido é quem sai para conquistar e batalhar pelo sustento da família”, enquanto ela se dedica a apoiar e administrar o lar. Ela também mencionou que, embora, em ocasiões, uma mulher possa precisar ficar em casa, seu próprio casamento terminou em divórcio, o que reforça sua ideia de que o casamento é mais forte sob a condição de o homem ser o provedor.
De esposa a CEO: um contraste na mensagem conservadora
Após o ataque que resultou na morte de Charlie Kirk na Utah, Erika Kirk foi nomeada como CEO e presidente do conselho da Turning Point USA, a organização que seu marido liderava. Em seu discurso, ela declarou que a voz de seu marido continuará viva e que “o show deve continuar”.
Especialistas questionam como ela poderá conciliar sua posição de liderança no setor político com o discurso de submissão feminina promovido por figuras conservadoras, que há décadas defendem que o papel da mulher seja no âmbito doméstico.
Conservadorismo e a tradição de Phyllis Schlafly
A história de Erika Kirk remete à de Phyllis Schlafly, ícone conservadora que combateu a ratificação da Emenda dos Direitos Iguais na década de 1970, ao mesmo tempo em que pregava a importância do submission e do papel de cuidadora. Schlafly, mãe de seis filhos e esposa de um advogado, sustentava que era possível equilibrar uma carreira política com uma vida de submissão em casa, sob permissão do marido.
Conciliação entre carreira e submissão
Enquanto sua antecessora foi uma ativista de longa data, Erika Kirk possui uma formação acadêmica sólida, com mestrado em estudos jurídicos e atualmente cursa doutorado em estudos bíblicos. Apesar disso, ela afirma que, quando encontrou Charlie Kirk, tudo mudou, e que para ela, a maternidade passou a ser prioridade.
Contradições e realidades econômicas
Para muitos críticos, essa defesa do papel exclusivamente maternal esconde uma dura realidade: a maioria das famílias não consegue sustentar uma mulher em casa devido ao alto custo de vida e baixa remuneração. Dados do Pew Research Center revelam que cerca de 67% das mães republicanas e 70% das democratas trabalham fora, refletindo a dificuldade de manter uma família apenas com uma renda.
O custo de creche, por exemplo, aumentou 13% entre 2022 e 2024, e o gasto médio com educação infantil representa mais de 24% da renda familiar, valor muito superior ao considerado acessível pelo governo federal.
Feminismo, tradição e resistência
Embora figuras como Erika Kirk e influenciadoras conservadoras reafirmem o valor da submissão e do papel tradicional da mulher, especialistas apontam que o movimento feminista não está sendo derrotado. Pelo contrário, ela se encontra em um momento histórico de maior influência e diversidade de escolhas para as mulheres.
Segundo a professora Shauna Shames, da Universidade de Rutgers, o discurso de quem afirma que “fim do feminismo” está próximo é uma estratégia antiga, que reforça a ideia de que as mulheres podem exercer seus papéis tradicionais com autonomia, mesmo em cargos de liderança.
Desafios e críticas aos modelos tradicionais
Ativistas como Allie Beth Stuckey e outras influenciadoras tradwife pregam que o verdadeiro “empoderamento” feminino é a opção de escolher ficar em casa sem culpa, o que contrasta com os debates feministas sobre igualdade e liberdade de escolhas.
Enquanto isso, figuras políticas e do setor de liderança continuam a dividir opiniões, com muitas mulheres chegando a cargos de destaque enquanto promovem uma visão de sociedade tradicional e conformada às normas bíblicas.
Perspectivas futuras
O paradoxo entre o discurso conservador e a realidade econômica continuará sendo um tema de debates e críticas. A questão central é: até que ponto os ideais tradicionais podem resistir às pressões sociais e financeiras do mundo contemporâneo? A resposta dependerá de como essas mulheres irão administrar essa tensão nos próximos anos.
Este cenário evidencia que, embora as narrativas de submissão e “ ter tudo” ainda existam, a complexidade das vidas modernas torna cada vez mais difícil manter essa dualidade de papéis sem enfrentar dificuldades financeiras ou questionamentos sobre a sua autenticidade.