Brasil, 12 de outubro de 2025
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MAGA e as esposas stay-at-home: um paradoxo na era conservadora

Erika Kirk, viúva de Charlie Kirk, assume papel de CEO e desafia o discurso tradicional de submissão feminina na direita conservadora

Após a morte de Charlie Kirk, líder conservador e fundador do Turning Point USA, sua esposa, Erika Kirk, foi nomeada CEO da organização, revelando uma mudança na narrativa tradicional sobre os papéis de gênero na ala conservadora dos Estados Unidos.

O papel da mulher na narrativa bíblica e o desafio da nova liderança

Durante episódio de The Charlie Kirk Show, Erika afirmou que a mulher deve ser a guardiã do lar, enquanto o homem trabalha e conquista. “Seu marido tem que ser quem sai, constrói, batalha e volta para proteger seu “ninho”, declarou. Apesar do discurso de submissão, ela agora ocupa um papel de alta liderança, quebrando a narrativa tradicional dessas ideologias.

Conflito entre atuação pública e valores tradicionais

Em seu discurso logo após a morte do marido, Erika afirmou que seu novo cargo não contradiz sua mensagem anterior de que mulher deve focar na família. “Quando você encontra o homem certo, tudo muda. Maternidade não é uma pausa, é uma plataforma de lançamento”, afirmou ela, reforçando uma visão tradicional de feminilidade.

Conservadorismo, feminismo e a influência de Phyllis Schlafly

Analistas apontam que a trajetória de Erika Kirk replica a de figuras como Phyllis Schlafly, que combinou uma carreira pública com o predomínio da visão de que a mulher deve priorizar o lar. Schlafly, que liderou contra a ratificação da Emenda dos Direitos Iguais na década de 1970, também conciliava uma trajetória profissional com sua retórica de submissão e valores tradicionais.

Segundo a professora de ciências políticas Shauna Shames, da Universidade de Rutgers, Erika representa uma “incarnação moderna” dessa tradição, onde a atuação pública é compatível com uma postura de mulher devota e dedicada à família. Ela aponta ainda que essa postura segue uma estratégia de mobilização que não contradiz, mas reforça, o discurso tradicional de gênero.

A questão econômica e social por trás da narrativa

Especialistas destacam que, para a maioria das famílias, manter essa dualidade é praticamente inviável sem recursos financeiros elevados. Segundo o Pew Research Center, cerca de 70% das mães, independentemente do espectro político, trabalham fora de casa, embora a divisão de tarefas e a disparidade salarial dificultem essa coexistência.

Além disso, o aumento do custo de creches e o crescimento das despesas com educação e cuidados impactam a decisão de muitas mulheres de permanecer em casa, situação que reforça a ideia de que discursos femininos tradicionais muitas vezes não refletem a difícil realidade econômica da maior parte da população.

Implicações na movimentação política e fé na permanência do movimento conservador

A gestão de Erika Kirk sob a liderança de Charlie Kirk reacende debates sobre o fim do feminismo e a permanência de papéis tradicionais, principalmente na retórica de figuras religiosas e políticas. Analistas opinam que, mesmo com figuras públicas promovendo o “não fazer carreira” e priorizar o lar, o movimento conservador continua a evoluir, incorporando mulheres em posições de poder sem necessariamente abandonar suas crenças tradicionais.

Para a professora Amy Binder, da Universidade Johns Hopkins, a atuação dupla de mulheres como Erika não é uma contradição para seus seguidores. “Eles veem a dedicação à família como uma forma de empoderamento e opção, enquanto que para liberais, essa dualidade é considerada uma hipocrisia”.

Feminismo estatal ou resistência conservadora?

Embora alguns vejam na ascensão de Erika Kirk um sinal de que o “fim do feminismo” pode estar próximo, especialistas argumentam que o movimento feminista permanece forte e diversificado. Segundo Shauna Shames, o movimento vive seu momento mais expressivo, com mais mulheres ao redor do mundo conquistando amplas opções de vida, mesmo diante de um discurso conservador ameaçador.

Erika Kirk, em sua trajetória, reforça a narrativa de que é possível “ter tudo” — carreira, família e religião — desde que em conformidade com a ideologia de seus apoiadores. Assim, ela simboliza a complexa relação entre tradição, poder e a luta por espaço público na política conservadora americana.

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