O próximo governo que assumir a gestão federal em 2027 poderá enfrentar um cenário econômico desafiador, com as contas travadas e com pouco espaço para novos gastos. Especialistas avaliam que o aumento acelerado das despesas obrigatórias, como salários e benefícios sociais, consumirá praticamente todo o orçamento, podendo resultar em bloqueios de verbas logo no início do mandato.
Previsões orçamentárias para 2027
A previsão do governo, conforme revelado na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026, aponta para um aperto significativo nas contas públicas em 2027. Serão destinados apenas R$ 122 bilhões para despesas discricionárias, um valor que, segundo especialistas, é insuficiente para a manutenção da máquina pública. Além disso, cerca de R$ 50 bilhões desse total já estão comprometidos com o pagamento de emendas parlamentares.
Esse cenário crítico já é reconhecido pelo governo, que projeta que em 2029 haverá apenas R$ 8,9 bilhões disponíveis para investimentos públicos. Na prática, isso significa que poderá faltar dinheiro para a manutenção de escolas, hospitais e obras necessárias para o bem-estar da população.
Despesas obrigatórias: um fardo crescente
Entendemos que as despesas obrigatórias são aquelas previstas na Constituição e incluem a folha salarial dos servidores, além de custeios com saúde e educação. Diante do alto comprometimento dessas despesas, o orçamento federal se mostra cada vez mais engessado, refletindo um forte estrangulamento fiscal.
Como alerta o economista sênior da 4intelligence, Renan Martins, o próximo governo terá de reavaliar o arcabouço fiscal e, possivelmente, o teto de gastos, que pode impactar diretamente a popularidade dos governantes. A Instituição Fiscal Independente (IFI), vinculada ao Senado Federal, enfatiza que esse aperto fiscal compromete o crescimento econômico, já que impede investimentos em áreas fundamentais como educação e inovação.
Impactos para a população e possíveis aumentos na inflação
Em um ambiente de restrições fiscais, a expectativa é de que o governo sucessor enfrente pressões sobre a inflação e juros logo no início do mandato. O professor de finanças da Strong Business School, Jarbas Thaunahy, destaca que a percepção de descontrole fiscal pode levar a um cenário de alta nos preços, além de amplificar a volatilidade no mercado cambial. Isso tornaria a elevação dos juros quase uma certeza no curto prazo.
Em resposta ao que chamam de “estrangulamento” do orçamento, um grupo de economistas, incluindo ex-presidentes do Banco Central, lançou o Movimento Orçamento Bem Gasto. O grupo clama por mais equilíbrio e transparência nas contas públicas, alertando que as despesas obrigatórias já consomem 91% da despesa primária total da União, o que limita o espaço para novos investimentos e políticas públicas necessárias.
Eles enfatizam que muitos programas públicos permanecem sem avaliação de impacto, consumindo recursos que poderiam ser redirecionados para ações mais eficazes. Além disso, as emendas parlamentares ocupam 28% da despesa discricionária, muitas vezes sem planejamento adequado, transparência e fiscalização.
Conclusão
Com a previsão de um cenário econômico travado, o próximo governo enfrentará desafios significativos para gerir as contas públicas e garantir investimentos em serviços essenciais à população. A falta de espaço fiscal pode comprometer a capacidade de ação do novo mandato, exigindo decisões difíceis e planejamento estratégico desde o início. Portanto, tanto a gestão fiscal quanto a avaliação de programas existentes serão essenciais para o futuro do país.