O governo federal divulgou nesta sexta-feira (11) um novo modelo de crédito imobiliário que deve beneficiar principalmente a classe média, com uma elevação do limite máximo de financiamento para R$ 2,25 milhões e juros que não ultrapassam 12% ao ano. A medida deve injetar cerca de R$ 37 bilhões no mercado no próximo ano, impulsionando lançamentos de novos empreendimentos.
Principal mudança no financiamento imobiliário
Entre as principais alterações, está o aumento do limite de financiamento no Sistema Financeiro de Habitação (SFH), atualmente fixado em R$ 1,5 milhão desde 2018, para até R$ 2,25 milhões. Segundo Renato Correia, presidente da Associação Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), essa mudança permitirá uma maior disponibilidade de recursos para compra de imóveis, principalmente para quem busca imóveis de valores mais elevados.
Ele destaca que, com a redução na exigência de depósitos compulsórios do Banco Central, de 5%, cerca de R$ 37 bilhões passarão a estar disponíveis no mercado de crédito. “Cada banco vai definir como utilizar esses recursos, mas a facilidade de crédito, com limites aumentados e juros menores, deve estimular o setor imobiliário”, afirma Correia.
Impulsionando o mercado e democratizando o acesso
Ao ampliar o limite de financiamento, o governo busca atender principalmente a classe média, que enfrenta dificuldades de acesso a crédito devido aos altos custos e às limitações de financiamento. “Quem ganha até R$ 12 mil, por exemplo, já está contemplado pelo programa Minha Casa, Minha Vida, mas quem tem renda acima disso encontra mais obstáculos. A nova medida facilitará a compra de imóveis de até R$ 2,25 milhões”, explica Correia.
Para Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção na Fundação Getulio Vargas/IBRE, a iniciativa deve gerar maior oferta de imóveis financiados pelo banco estatal Caixa Econômica Federal, a maior financiadora do setor. “A retomada do financiamento de até 80% do valor do imóvel também aumenta a possibilidade de empréstimos para famílias que antes tinham dificuldades de acesso.”
Reação do setor e perspectivas futuras
De acordo com Correia, o novo modelo deve favorecer o lançamento de novos projetos imobiliários, especialmente em faixas de valor mais acessíveis. “Mesmo com os bancos tendo reservas de recursos, há uma expectativa de que outros institutos bancários sigam a mesma linha, porque a baixa taxa de juros, abaixo de 12%, atrai o mercado.”
Especialistas acreditam que a ampliação do crédito pode contribuir para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2026. A XP divulgou que a medida, junto com o fortalecimento do programa Minha Casa, Minha Vida, pode adicionar cerca de 0,1 ponto percentual ao crescimento econômico do próximo ano, estimado em 1,7%.
Cuidados e desafios do setor
Apesar do otimismo, analistas alertam para a necessidade de cautela. Ana Maria Castelo lembra que, embora o aumento do limite de financiamento seja positivo, os bancos ainda têm receios quanto à limitação dos juros em 12% ao ano, considerando o momento de elevada taxa de crédito no mercado. “Há uma preocupação de que os recursos não sejam totalmente utilizados por causa da margem de rentabilidade do setor.”
Além disso, há o cuidado para que os recursos não sejam direcionados apenas para imóveis de alto valor, evitando-se uma concentração de recursos para a faixa de maior renda, o que poderia limitar o alcance social da iniciativa.
Impactos econômicos e próximos passos
A expectativa do mercado é que o novo modelo de crédito imobiliário, aliado a ampliação do programa Minha Casa, Minha Vida, contribua para a expansão do setor e o aumento dos lançamentos no mercado imobiliário brasileiro. A expectativa da XP é que, em 2026, a economia cresça 1,7%, impulsionada também pela maior circulação de recursos no crédito imobiliário.
O governo anunciou que publicará as regras detalhadas do novo programa nos próximos dias, e a expectativa é que o crédito comece a ser ofertado de forma mais ampla ainda neste fim de ano ou começo do próximo.
Fonte: O Globo