Em meio aos desafios atuais enfrentados pela Igreja, o arcebispo dom Edgar Peña Parra, substituto para Assuntos Gerais da Secretaria de Estado, proferiu um importante discurso durante o evento bienal “Lynwood Lecture”, realizado em Londres. Neste encontro, destacou conceitos fundamentais como sinodalidade e subsidiariedade, apontando a necessidade de um equilíbrio entre uma estrutura hierárquica e a dinâmica descentralizada que rege a vivência da fé entre os católicos.
Explorando a sinodalidade
O arcebispo iniciou sua fala abordando o conceito de sinodalidade, que representa, segundo ele, um modo de operação do Povo de Deus. Ele lembrou que esta é uma prática cada vez mais enfatizada pelo Papa Francisco em suas exortações, que promovem a participação ativa de todos os membros da Igreja, permitindo um discernimento comunitário e respeitando a autonomia das diversas vozes nesse processo. Esse princípio, conforme destacou Peña Parra, está intimamente ligado ao da subsidiariedade, que defende a importância de respeitar e apoiar as ações realizadas em níveis locais.
Sinodalidade e o “caminho comum”
O termo “sínodo”, de origem grega, traduz-se como “caminho comum”. Essa definição, segundo o arcebispo, implica em um profundo processo de discernimento, que deve levar em consideração não apenas o indivíduo, mas a totalidade da Igreja. “Jesus não veio criar uma nova organização, mas um novo modo de viver e ser comunidade”, avaliou.
Comunhão orgânica na Igreja
Peña Parra também abordou o conceito de comunhão, enfatizando que, conforme mencionado pelo Papa João Paulo II, a comunhão deve ser vista como um corpo vivo, onde a diversidade de vocações, ministérios e carismas se complementam. Essa perspectiva, segundo ele, é o que traduz a verdadeira essência da sinodalidade: a união em meio à diversidade, onde todos têm um papel fundamental na construção da Igreja.
Subsidiariedade: princípios fundamentais
Na sequência, o arcebispo discutiu o princípio da subsidiariedade, que pressupõe uma determinada hierarquia ao mesmo tempo que valoriza o papel de cada indivíduo dentro da comunidade eclesial. Ele ressaltou que a subsidiariedade é um dos pilares da doutrina social da Igreja, enfatizando que problemas devem ser resolvidos no nível mais local possível, evitando uma centralização exacerbada. O desafio, segundo ele, reside em garantir que a autoridade não interfira de maneira negativa nas ações locais, mas que cumpra seu papel de apoio e auxílio.
Perigo da fragmentação
Peña Parra não hesitou em afirmar que a implementação desse princípio pode gerar preocupações. Há um receio de que a descentralização favoreça a fragmentação da Igreja. Contudo, o arcebispo esclareceu que as autoridades locais não retiram competências do centro, mas contribuem para a missão universal da Igreja, fortalecendo as comunidades.
Realidades sinodais e desafios contemporâneos
O arcebispo lembrou que as práticas sinodais já estão embutidas na vida eclesial, evidenciadas nas Igrejas particulares e suas estruturas. Peña Parra enfatizou que a sinodalidade é uma chamada à ação para a Igreja, refletindo desde a base até a cúpula, incluindo a Cúria Romana, que não deve ser vista como mera mediadora, mas como parte integral dessa ideia de unidade e colegialidade.
O papel das Conferências Episcopais
Ao finalizar, o prelado destacou a relevância das Conferências Episcopais no processo sinodal. Ele afirmou que essas instituições são fundamentais para compreender as necessidades dos fiéis e trabalhar em prol de acordos bilaterais, sempre mantendo uma ligação saudável com a Santa Sé. Essa dinâmica reflete uma descentralização saudável, crucial para enfrentar os desafios do terceiro milênio.
Rumo ao estilo sinodal
Em sua conclusão, Peña Parra sublinhou a urgência de se implementar os princípios da sinodalidade e subsidiariedade, em busca de um equilíbrio que evite tanto a volta a uma abordagem hierárquica asfixiante quanto o risco de um caos que ameace a unidade da Igreja. Ele reforçou a importância de promover um verdadeiro “estilo sinodal”, que inclua escuta, respeito e partilha de informações, colocando as estruturas eclesiais a serviço da missão, e não como fins em si mesmas.
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