No dia 8 de outubro, mais de cem famílias de mortos e desaparecidos políticos durante a ditadura militar brasileira (1964–1985) puderam finally resgatar a dignidade de seus entes queridos. Durante uma emotiva solenidade realizada no Salão Nobre da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), as famílias receberam certidões de óbito retificadas, que agora refletem as verdadeiras causas e circunstâncias das mortes que, por tanto tempo, foram distorcidas ou omitidas nos registros oficiais.
A importância da retificação
Essas novas certidões de óbito não apenas corrigem erros burocráticos, mas também representam uma reparação simbólica fundamental para os familiares das vítimas. Durante décadas, muitos casos de tortura e assassinatos foram subestimados ou ignorados, perpetuando a dor e a injustiça enfrentadas pelas famílias que buscavam reconhecimento e verdade sobre o que aconteceu com seus entes queridos. A cerimônia de entrega foi um passo importante para a memória coletiva, fortalecendo a luta por justiça e reconhecimento das atrocidades cometidas durante o regime militar.
Memória e resistência
Entre os homenageados, estiveram nomes que marcaram a resistência à opressão militar, como o jornalista Vladimir Herzog e os ex-deputados Carlos Marighella e Rubens Paiva. Este último foi representado por seu filho, o escritor Marcelo Rubens Paiva, e seu neto, Francisco Paiva. A presença da família Paiva enfatiza a continuidade da luta pela memória e pela verdade, lembrando que o passado deve ser confrontado para que a história não se repita.
Momentos de emoção
Um dos momentos mais impactantes da cerimônia ocorreu quando os parentes foram convidados a erguer as fotos de seus familiares desaparecidos. Essa ação simbólica de memória e reconhecimento proporcionou um forte laço entre as famílias, unindo-as em um apelo por justiça e dignidade.
O papel da Universidade de São Paulo
A Faculdade de Direito da USP, ao sediar esse evento, reafirma seu compromisso com a promoção dos direitos humanos e com a justiça social. A instituição se posiciona como um espaço de reflexão e debate sobre temas sensíveis da história do Brasil, como a ditadura militar. Além disso, a Universidade promove outras iniciativas voltadas para a preservação da memória histórica e para a formação de uma sociedade mais justa e informada.
Os novos documentos, que agora refletem a verdade sobre essas mortes trágicas, são um símbolo de esperança para as famílias que continuam a buscar respostas nas sombras do passado. Para muitos, a luta não termina com a entrega das certidões; ela continua na busca pela verdade, pela justiça e pelo reconhecimento dos direitos humanos. A solenidade na USP não é apenas um momento de entrega, mas um marco na jornada por um Brasil que não esquece.
A luta por verdade e justiça continua
As certidões de óbito corrigidas são um passo significativo, mas, para as famílias das vítimas, a busca por justiça ainda está longe de ser concluída. O reconhecimento e a luta contra a impunidade são centrais para que a sociedade brasileira avance em direção a um futuro mais justo e solidário. O evento realizado na USP reforça a necessidade de se manter viva a memória desses indivíduos que, em nome da liberdade, foram silenciados. À medida que a sociedade refletir sobre esse passado, surgirão também novas gerações comprometidas com a proteção dos direitos humanos, para que nunca mais casos como esses se repitam.
Essa cerimônia representa um apelo à reflexão e um chamado à ação. Ela nos lembra que a memória é um componente essencial na luta por justiça e que devemos continuar a defender os direitos dos que não podem mais falar. Para as famílias, o sentimento de dor pode ser mitigado pela certeza de que suas histórias e lutas não foram em vão.