Enquanto as negociações do ministro da Economia, Luis “Toto” Caputo, em Washington, permanecem sem resultados concretos, a pressão sobre o câmbio na Argentina aumenta. Nesta semana, o dólar no mercado paralelo e financeiro superou a barreira dos 1.500 pesos, levando o governo a intervir no mercado para tentar conter a valorização da moeda local.
Intervenções no câmbio e condições externas
O Tesouro argentino realizou sua sétima intervenção consecutiva no mercado de câmbio, vendendo ao menos US$ 320 milhões nesta semana, na tentativa de valorizar o peso. Apesar disso, a moeda continua se desvalorizando, com a cotação no mercado cambial atingindo 1.430 pesos por dólar nesta quarta-feira, com uma alta de quase 40% em 2025.
O Banco Central da Argentina (BCRA), que já queimou US$ 1,1 bilhão em reservas em agosto, agora conta com recursos do Tesouro para sustentar a moeda. Entretanto, suas ações só podem acontecer se o peso ultrapassar a banda de negociação estabelecida pelo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Perspectivas de risco e influência externa
Nos últimos dias, a expectativa do mercado é de eventual desvalorização desorganizada do peso, especialmente após a eleição legislativa de 26 de outubro. A incerteza aumenta devido à ausência de anúncio de ajuda financeira do governo dos EUA, que continua silencioso, enquanto investidores argentinos apostam na possibilidade de uma desvalorização significativa, entre 30% e 50%, até o fim do ano.
A taxa de risco do país voltou a ultrapassar os mil pontos básicos após uma breve queda, impulsionada pela instabilidade política e econômica. Analistas indicam que a ajuda dos EUA, inicialmente vista como possível por meio de um swap de US$ 20 bilhões e compra de títulos em dólares, ainda não se materializou, agravando a crise cambial.
Crise financeira, confiança e insegurança política
O clima de desconfiança em relação ao governo de Javier Milei é agravado por turbulências políticas, denúncias de corrupção e resultados econômicos frágeis. Além das dificuldades internas, há rejeição à expectativa de uma desvalorização não planejada, o que poderia intensificar a inflação e prejudicar a estabilidade do país.
Fontes próximas às negociações afirmam que muitos esperavam uma ajuda concreta dos EUA após a visita de Milei a Nova York, mas até agora nada de oficial foi anunciado. Segundo especialistas, o fato de Trump ainda não ter se pronunciado aumenta o risco de uma desvalorização abrupta da moeda argentina.
Impacto da instabilidade e possíveis cenários
Analistas indicam que a compreensão equivocada do governo argentino de que equilibrar as contas fiscais garantiria credibilidade cambial foi um erro fatal. Apesar de Milei ter obtido avanços em políticas fiscais, o descontrole do câmbio ameaça seu programa liberalizador.
Mesmo com resultados históricos na contenção da hiperinflação, o desconforto com o mercado cambial aumenta, gerando uma crise que pode se aprofundar até o final do ano, especialmente se as reservas do país continuarem a escassear e as apostas na desvalorização aumentarem.
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