O Partido Conservador do Reino Unido, que durante décadas se vangloriava de ser a força política mais bem sucedida do mundo, enfrenta um momento crítico. Depois de ser destituído do poder em 2024, o partido central-direita adota políticas que ecoam a abordagem de Donald Trump, como deportações em massa e cortes drásticos no orçamento do governo. A situação atual é um reflexo das dificuldades que os Conservadores têm em sustentar sua relevância no cenário político britânico.
Um partido encolhido
A conferência anual do partido em Manchester mostrou sua diminuta estatura política. As multidões eram escassas sob o imponente teto do Manchester Central, um antigo terminal ferroviário. Vários membros, como Neil McCarthy, admitiram que o partido “não está em uma boa situação” e que é necessário “paixão” para reverter a maré negativa.
A desconfiança quanto à capacidade do partido de governar aumentou, especialmente após uma gafe na entrega de chocolates com a marca do partido, onde o nome da Grã-Bretanha foi escrito incorretamente como “Britian”. Desde a saída da União Europeia, os benefícios econômicos prometidos não se concretizaram, e o partido passou por anos de turbulência, marcado por escândalos de corrupção, incluindo a rápida ascensão e queda do ex-primeiro-ministro Boris Johnson, seguido pela premiê Liz Truss, cujo plano fiscal desastroso provocou inflação elevada.
Atualmente sob a liderança de Kemi Badenoch, o partido se deslocou ainda mais à direita, propondo políticas que incluem a eliminação das metas de redução de emissões de carbono e a deportação de 150 mil imigrantes não autorizados por ano. Estas propostas alarmaram grupos de defesa dos direitos civis, levando à pergunta: o que realmente diferencia os Conservadores do partido Reformista de Nigel Farage?
Desafios à liderança
A possibilidade de uma nova eleição não precisa ocorrer até 2029, mas as baixas classificações de Badenoch nas pesquisas e seu desempenho aquém do esperado no Parlamento levantaram especulações sobre sua continuidade na liderança. Robert Jenrick, que perdeu para Badenoch na corrida de liderança em 2024, começou a construir uma base de apoio online, apresentando-se como uma das vozes anti-imigração mais proeminentes do partido.
Jenrick atraiu multidões com promessas de revitalização do partido e está claramente se posicionando para uma futura corrida pela liderança. Ele, no entanto, mantém a lealdade a Badenoch, afirmando: “O partido fez sua escolha. Kemi é nossa líder.”
Memórias de Margaret Thatcher
Com o futuro incerto, muitos conservadores buscam inspiração no passado, especialmente na figura emblemática da ex-primeira-ministra Margaret Thatcher, que transformou o Reino Unido nos anos 80. A conferência de Manchester fez questão de homenagear Thatcher, com recortes de papelão de tamanho real e até uma discoteca temática celebrando os anos 80, um lembrete nostálgico de um período que muitos no partido ainda consideram como um auge político.
David Davis, um veterano da política conservadora, acredita que Badenoch pode reviver o espírito da era Thatcher em tempos de crise. Ele mencionou como Thatcher também enfrentou dúvida antes de se tornar uma solução durante a crise financeira da época. “Estamos prestes a enfrentar outra crise”, afirma Davis, “e Badenoch será a resposta novamente”.
À medida que o Partido Conservador navega por essas águas turbulentas, suas políticas e posição ideológica continuarão a ser testadas, refletindo um dilema que combina tradição e inovação, desconfiança popular e a busca por uma nova identidade.
Com um cenário político em constante mudança, a capacidade dos Conservadores de se reinventar será crucial para seu futuro à medida que se aproximam novas eleições.
