O Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) decidiu, na última quarta-feira (8), que as investigações sobre a reforma do Estádio Mané Garrincha ainda podem ser analisadas, apesar das alegações de prescrição apresentadas pelas construtoras envolvidas. O resultado da votação foi de 4 a 2 a favor da continuidade dos processos, abrindo caminho para que os casos de superfaturamento na obra sejam finalmente julgados.
Decisão do Tribunal de Contas
As construtoras Via Engenharia e Andrade Gutierrez haviam solicitado a suspensão dos processos, argumentando que o prazo para o julgamento havia expirado. No entanto, após intensas discussões, o TCDF rejeitou esses pedidos. A votação contou com a participação de seis conselheiros, dos quais quatro se mostraram favoráveis à continuidade das investigações. O presidente do Tribunal, Manoel Andrade, teve uma postura neutra, optando por não votar, uma vez que não houve empate.
Os votos contrários à prescrição vieram de Renato Rainha, relator do caso, Márcio Michel, Paulo Tadeu e André Clemente. Já Anilcéia Machado e Inácio Magalhães foram a favor da prescrição, o que gerou um debate acalorado sobre a continuidade das investigações.
Entenda o caso
A reforma do Estádio Mané Garrincha ocorreu em um contexto marcado por investigações de corrupção. Em 2017, a Polícia Federal iniciou a Operação ‘Panatenaico’, que tinha como objetivo apurar práticas ilícitas que beneficiaram o consórcio formado pelas construtoras. Durante a operação, ficaram evidentes indícios de licitações forjadas, além de um prejuízo estimado em R$ 465 milhões aos cofres públicos. Este montante seria resultado de serviços não prestados e valores acima do mercado.
Entre os envolvidos no esquema estão os ex-governadores do Distrito Federal, José Roberto Arruda e Agnelo Queiroz, além do ex-vice-governador Tadeu Filippelli, que foram presos em decorrência das apurações de improbidade administrativa.
Histórico sobre a prescrição dos processos
A discussão sobre a prescrição ganhou intensidade após uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2021, que estabeleceu prazos para a prescrição de Tomadas de Contas Especiais nos tribunais de contas. Antes dessa decisão, esses processos eram considerados imprescritíveis. O relatório detalha que os casos de superfaturamento na construção do Mané Garrincha começaram a ser considerados apenas em 2022, quase uma década após a inauguração do estádio.
No início dos julgamentos, o relator Manoel Andrade, então presidente do TCDF, acreditava que os processos estavam prescritos, baseando-se nas novas diretrizes do STF. O andamento da análise foi demorado devido à complexidade do tema, além do grande volume de documentos envolvidos – mais de 300 mil páginas que precisavam ser minuciosamente examinadas.
Consequências e próximos passos
A continuidade dos processos sobre superfaturamento abre um precedente importante na abordagem de casos de corrupção envolvendo obras públicas no Brasil. Essa decisão do TCDF é um passo significativo para a responsabilização das construtoras e dos ex-gestores envolvidos. Além disso, o resultado da votação é uma resposta à sociedade, que clama por transparência e justiça em relação ao uso do dinheiro público.
Os próximos passos incluem a continuidade das investigações e a realização de novas audiências e análises sobre os indícios de irregularidades. A decisão deverá ser amplamente discutida pela população, especialmente por aqueles que substituirão os gestores atuais nas próximas eleições. O clamor por justiça neste caso deve ressoar em toda a sociedade, reforçando a importância da luta contra a corrupção.
O desenrolar desse processo poderá impactar diretamente a imagem e a credibilidade das instituições envolvidas e, acima de tudo, contribuir para a formação de um cenário onde a corrupção seja menos tolerada.
O TCDF e a sociedade esperam que, diante de novas evidências e investigações, os responsáveis por esse esquema possam ser efetivamente punidos, garantindo que episódios semelhantes não voltem a ocorrer no futuro.