Nesta terça-feira (7), a Justiça do Ceará decidiu suspender a punição de dois dias de prisão administrativa imposta à policial militar Mayara Kelly Melo Mota. A penalidade havia sido aplicada após a agente publicar vídeos em suas redes sociais, nos quais ela aparecia lavando uma viatura e ensinando a utilização de um torniquete. A decisão liminar foi concedida pelo juiz Roberto Soares Bulcão Coutinho, da Auditoria Militar do Estado do Ceará, e a polícia não poderá executar a punição até que o caso seja finalmente julgado.
A origem da punição
De acordo com a Polícia Militar, Mayara foi punida por supostamente violar o Código Disciplinar Militar ao “se promover” utilizando o fardamento durante as gravações. Os vídeos foram publicados em 2023, e a decisão que punia a policial foi proferida em abril deste ano. A punição, que a obrigaria a permanecer no quartel por dois dias sem poder voltar para casa, gerou polêmica e insatisfação tanto para a agente quanto seu advogado, Sabino Sá.
Reação da policial e da defesa
Após a notificação da punição, Mayara expressou sua descontentamento em suas redes sociais, afirmando que nunca imaginou ter uma sanção em seu registro disciplinar. “É uma sanção grave à qual eu nunca pensei em ter na minha ficha, pois para mim, eu nunca cometeria algo que pudesse manchar meu assentamento disciplinar durante minha caminhada aqui”, declarou. Em resposta à penalidade, a policial afirmou que pretendia interromper a publicação de conteúdos sobre sua rotina profissional, afirmando: “Não haverá mais foto alguma no meu perfil, vou deixar para quem pode e quem ainda se orgulha da farda que usa.” Assim, seu perfil no Instagram tornou-se privado.
O advogado de defesa alegou que a punição foi uma clara perseguição à policial. “Temos aí uma clara perseguição a Mayara, tendo em vista que outros policiais, se você abrir o TikTok, o WhatsApp, vai ver uma grande quantidade de policiais fazendo vídeos fardados”, afirmou Sabino Sá. Ele ressaltou que os conteúdos publicados por Mayara não causaram desprestígio à Polícia Militar, nem expuseram táticas ou documentos internos da corporação.
Compartilhamento nas redes sociais
Com mais de 49 mil seguidores em sua conta no Instagram, Mayara costumava publicar uma variedade de conteúdos, incluindo momentos de sua rotina como mãe e vídeos sobre sua carreira na Polícia Militar. Em um dos vídeos, onde ela lavava a viatura, Mayara abordou o papel das mulheres na corporação, desafiando estereótipos de que elas apenas ocupam funções administrativas. “Algumas pessoas acham que a mulher na polícia só trabalha no administrativo. Mal sabem que exercemos inúmeras funções que, até algumas décadas atrás, eram consideradas apenas para homens,” destacou ela no vídeo, que teve grande repercussão.
Expectativas para o julgamento final
Após a concessão da liminar, a situação de Mayara permanece indefinida. A penalidade de prisão poderá ser aplicada apenas se o julgamento final da ação indicar a manutenção da decisão administrativa da Polícia Militar. O advogado da policial estima que este julgamento não deverá ocorrer antes de 2026, o que deixará a situação pendente por um período significativo.
Com essa suspensão, Mayara pode continuar suas atividades normais enquanto aguarda uma decisão sobre sua situação. Ela expressou a intenção de retomar os estudos e buscar outras oportunidades de trabalho, numa clara demonstração de resiliência diante das adversidades.
O caso gerou um grande debate nas redes sociais sobre a liberdade de expressão de policiais e o uso das plataformas digitais para humanizar a imagem da corporação. Além disso, levantou discussões sobre a diferença de tratamento entre policiais que utilizam as redes sociais de maneira semelhante, revelando uma possível disparidade nas ações disciplinares dentro da corporação.
Esse episódio ressalta a tensão entre a modernidade das redes sociais e as normas tradicionais que regem o comportamento dos membros da Polícia Militar, sinalizando a necessidade de um diálogo mais aberto sobre a adaptação da corporação à nova realidade digital.
Por fim, a situação de Mayara Kelly continua sendo acompanhada com atenção, não apenas por sua comunidade e colegas de trabalho, mas também pela sociedade em geral, que observa as implicações legais e sociais das ações disciplinares no serviço público e a liberdade de expressão no contexto militar.
Para mais detalhes sobre este caso e outras notícias, acesse o g1 Ceará.


