A França, um dos pilares da União Europeia, atravessa um período de instabilidade política sem precedentes. Com três primeiros-ministros em um ano e meio, o país está em busca de um equilíbrio político e social que parece distante. A análise de Jean-Baptiste Noé, editor-chefe da revista “Conflits”, revela um cenário desolador para o presidente Emmanuel Macron, que se reelegeram em 2022, mas enfrenta dificuldades para manter uma governabilidade estável.
Uma crise política e econômica alarmante
A Quinta República Francesa, instaurada em 1958, foi concebida para oferecer uma liderança forte e estável ao país, terminando com a instabilidade parlamentar que imperava. No entanto, quase setenta anos depois, o sistema semipresidencial parece em atoleiro: Emmanuel Macron não tem uma maioria clara na Assembleia Nacional, nem a liberdade para dissolvê-la sem correr o risco de entregar o poder à direita.
O especialista em geopolítica, Jean-Baptiste Noé, comenta que a situação é ainda mais complicada devido à crise econômica, marcada por uma dívida pública crescente e uma carga tributária que leva muitos cidadãos e empresas a deixar o país. “O governo precisa fazer cortes para equilibrar as contas, mas nenhum partido concorda sobre qual política econômica seguir”, destaca ele.
Pesos dos gastos públicos e ineficiência
O verdadeiro cerne do problema reside na gestão dos gastos públicos. Um recente relatório do banco UBS revelou que, em 2024, o gasto público da França alcançou 57,1% do PIB, a segunda maior taxa da zona do euro, perdendo apenas para a Finlândia. A arrecadação fiscal atingiu 51,3%, refletindo um dos níveis mais altos da Europa. Apesar disso, a França não apresenta um orçamento equilibrado desde 1974.
Os recursos alocados à previdência e à saúde consomem a maior parte do orçamento, enquanto a eficiência do gasto público continua aquém dos padrões europeus. “O problema da França não é a falta de recursos, mas sim a forma como eles são administrados”, afirma o relatório. O sistema é considerado rígido e financeiramente pesado, desafiando tanto os governos de direita quanto os de esquerda a implementarem mudanças significativas.
A incerteza do futuro político
Com a falta de consenso entre os partidos, Jean-Baptiste Noé argumenta que não há saída viável a curto prazo. A dissolução da Assembleia Nacional, possivelmente a única alternativa, pode ser a única forma de Macron recuperar alguma legitimidade. No entanto, isso implicaria também na necessidade de alianças perigosas com partidos da extrema direita, como o “Rassemblement National”, que poderia permitir uma maioria para governar.
Essa possibilidade não é descartada por analistas do Barclays, que já observam os mercados se preparando para uma coabitação entre Macron e Marine Le Pen até as eleições presidenciais de 2027. Essa dinâmica poderia reconfigurar a política francesa de forma preocupante, colocando em risco a própria democracia do país.
Desafios sociais e institucionais
Diante do cenário volátil, é crucial entender as consequências dessa crise. Em primeiro lugar, o enfraquecimento do sistema semipresidencial pode gerar uma fragmentação social ainda mais acentuada, dividindo o país e comprometendo sua coesão política. Em segundo lugar, o fracasso da França em encontrar soluções eficazes pode ter um efeito dominó sobre toda a Europa. Não se trata apenas de uma instabilidade passageira, mas de uma transformação em que as instituições permanecem operacionais, mas incapazes de tomar decisões significativas.
Em resumo, a França se encontra em uma encruzilhada, lutando para recuperar um rumo claro. A capacidade de adaptação e resposta das instituições às demandas sociais será testada nos próximos anos, enquanto o país observa com preocupação o desenvolvimento de sua situação política.
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