O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), tem encontrado desafios crescentes na sua gestão, tentando manter uma relação próxima com o governo Lula em meio à insatisfação de aliados do Centrão e da oposição no Senado. Alcolumbre, que no início do ano conquistou o apoio do PL, tem enfrentado desgastes consideráveis com a bancada bolsonarista ao contrário do que seria esperado.
A tensão nas relações políticas
Um dos pontos principais de conflito tem sido a resistência de Alcolumbre à ideia de uma anistia ampla a condenados por atos considerados golpistas, um tema que beneficiaria diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro. Além disso, ele defende uma redução de penas, cuja discussão vem perdendo força no Senado, o que aumenta a insatisfação entre os senadores alinhados a Bolsonaro.
Recentemente, Alcolumbre trabalhou para barrar a chamada PEC da Blindagem, que dificultava a abertura de processos contra parlamentares. Essa manobra, considerada um acordo entre o Centrão e a oposição, não foi bem recebida, levando a um agravamento das tensões nas relações entre as principais forças políticas do Senado.
O atrito com o STF e os desafios legislativos
Além dos conflitos diretos com a oposição e aliados, o presidente do Senado tem se aproximado dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), o que leva a um aumento das críticas sobre sua condução dos trabalhos. Alcolumbre se queixou em plenário que a oposição tem focado suas críticas no STF, tornando “impossível” a condução eficiente dos trabalhos da Casa.
Embora existam reclamações sobre a relação de Alcolumbre com figuras influentes do governo, senadores bolsonaristas acreditam que sua influência crescerá após as eleições de 2026. Eles especulam que Alcolumbre precisará de um compromisso mais forte com o grupo para garantir a continuidade de sua presidência em 2027.
Expectativas e descontentamento
Flávio Bolsonaro (PL-RJ) expressou sua certeza de que Alcolumbre “tem palavra” e “não vai se furtar de pautar a matéria da anistia” assim que ela chegar ao Senado, destacando a delicadeza do equilíbrio político que o presidente do Senado precisa manter.
Outro sinal de deterioração nas relações ocorre na CPI do INSS, onde há queixas sobre a forma como Alcolumbre tem limitado os trabalhos da comissão, resultando em diversas críticas de parlamentares insatisfeitos. Mesmo entre seus aliados, as perguntas sobre sua liderança e decisões proliferam, levando a um clima de desconfiança crescente.
Alcolumbre e o governo Lula
Apesar das dificuldades enfrentadas, o governo Lula ainda vê valor na relação com Alcolumbre para avançar em iniciativas, como a proposta de isenção do Imposto de Renda, tentando minimizar os potencias impactos de um possível desligamento do União da gestão federal.
Neste contexto complexo, a rivalidade aumentou entre Alcolumbre e o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB). A recente decisão do Senado de enterrar a PEC da Blindagem provocou reações negativas na Câmara, gerando um ambiente de disputas internas.
No entanto, Motta tenta acalmar os ânimos diante de aliados, reconhecendo a irritação gerada entre seus pares por causa da decisão sobre a PEC. Esse distanciamento tem contribuído para uma paralisia em relação ao projeto de redução de penas aos envolvidos em atos de 8 de janeiro, o que aumenta as pressões sobre Alcolumbre para encontrar um caminho viável para unir as diferentes facções políticas.
Em meio ao turbilhão político
Enquanto o cenário político brasileiro continua em constante evolução, a situação de Davi Alcolumbre exemplifica a fragilidade das relações legislativas e os desafios que acompanham a liderança em tempos de polarização extrema. Seus movimentos estratégicos e articulações com diferentes grupos serão cruciais não apenas para sua sobrevivência política, mas também para a estabilidade e funcionalidade do Senado nos próximos meses.
À medida que se aproximam novas discussões importantes e votação de propostas, a capacidade de Alcolumbre de navegar por essas águas turbulentas será testada, refletindo as tensões persistentes entre diferentes correntes dentro do Congresso Nacional. Assim, o futuro do Senado e as alianças políticas aliadas ao governo podem muito bem depender da astúcia e habilidade do atual presidente da Casa para mitigar conflitos e promover a governabilidade.