Um estudo recente publicado na revista Environmental Research revelou que 69,3% das 1.024 praias brasileiras analisadas estão poluídas por microplásticos. Essas pequenas partículas de plástico, com menos de cinco milímetros, podem causar danos irreversíveis à biodiversidade, à segurança alimentar, à saúde humana e às atividades econômicas nas regiões marinhas e costeiras. A pesquisa, parte do projeto MicroMar, foi liderada pelo Instituto Federal Goiano (IF Goiano) e se destaca como o mais completo levantamento padronizado realizado até o momento não apenas no Brasil, mas em todo o Sul Global.
O impacto crescente da poluição por microplásticos
O problema dos microplásticos é alarmante e crescente. De acordo com os pesquisadores, o estudo não apenas identifica a presença dos plásticos, mas também se concentra nos tipos mais perigosos e nas áreas que apresentam os maiores riscos. Guilherme Malafaia, professor do IF Goiano e coordenador do projeto, enfatizou que “o MicroMar representa um marco porque, pela primeira vez, conseguimos ter uma visão abrangente e sistemática da contaminação por microplásticos ao longo das praias brasileiras”. Esse levantamento cria um banco de dados inédito que pode ser utilizado para futuras iniciativas de preservação.
A importância do monitoramento ambiental
Além de determinar a quantidade de microplásticos nas praias, a pesquisa seguiu um rigoroso protocolo de monitoramento. Os pesquisadores selecionaram 1.024 praias em 211 municípios costeiros, cobrindo cerca de 7,5 mil quilômetros de litoral. Entre o período de 2022 e 2023, foram coletadas 4.134 amostras de areia para análise. O resultado mostrou que as regiões mais afetadas foram Paraná, Sergipe, São Paulo e Pernambuco, com destaque para Pontal do Paraná, onde foi encontrada a maior concentração de microplásticos: 3.483,4 itens por quilograma de areia na praia dos Barrancos.
A prefeitura de Pontal do Paraná, ao ser questionada, manifestou desconhecimento sobre o estudo, sugerindo que a poluição poderia ser resultado de correntes marítimas que transportam materiais plásticos para a costa.
A resposta do governo e iniciativas em andamento
O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) está ciente da situação e acompanha as pesquisas sobre microplásticos. Em uma nota enviada à DW, o ministério destacou a importância da Estratégia Nacional Oceano sem Plástico (ENOP), lançada em 1º de outubro. Essa iniciativa visa coordenar ações para prevenir, reduzir e eliminar a poluição por plástico nos oceanos até 2030. A estratégia representa um esforço abrangente do governo federal para combater um dos mais sérios desafios ambientais do nosso tempo.
Microplásticos e saúde humana
Além do impacto ambiental, a presença de microplásticos na água do mar e na areia das praias pode ter consequências diretas para a saúde humana. Estudos recentes têm apontado para a detecção de microplásticos em organismos marinhos, e há preocupações crescentes sobre os efeitos na cadeia alimentar e, consequentemente, na alimentação dos seres humanos. Pesquisadores alertam que a ingestão de microplásticos pode levar a problemas de saúde ainda não totalmente compreendidos.
O que podemos fazer?
Combatendo a poluição por microplásticos demanda a colaboração de todos — governos, empresas e cidadãos. A redução do consumo de plásticos descartáveis, a adoção de práticas sustentáveis e a promoção de campanhas de conscientização são passos essenciais para reverter esse cenário alarmante. Além disso, o suporte a pesquisas como o MicroMar é crucial para entender a gravidade do problema e desenvolver soluções eficazes.
Em suma, a gravidade da contaminação por microplásticos nas praias brasileiras nos leva a refletir sobre nossas ações e sua relação com o meio ambiente. Somente com uma abordagem consciente e responsável poderemos garantir um futuro mais sustentável para nossos oceanos e, por conseguinte, para a saúde do planeta.
Para mais informações sobre este e outros estudos relacionados à poluição por plásticos, você pode acessar a DW, uma parceira do Metrópoles.