Uma obra que mergulha nas raízes da dança ancestral piauiense está chamando atenção no cenário literário brasileiro. Intitulado “Vamô vadiá nessa lezeira”, o livro, que concorre ao prestigioso prêmio Jabuti, destaca a rica história da dança de roda típica do município de Floresta do Piauí, localizado na região Sudeste do Estado. A obra é fruto do trabalho dos autores Eduardo Pontin e Francisca Sousa, que encontraram inspiração durante a pandemia, ao decidirem retornar para a cidade natal de Francisca.
A importância do Prêmio Jabuti
O Prêmio Jabuti é amplamente reconhecido como o mais tradicional prêmio literário do Brasil, sendo concedido anualmente pela Câmara Brasileira do Livro. A indicação de “Vamô vadiá nessa lezeira” ao prêmio é um reconhecimento importante não apenas para os autores, mas também para a cultura do Piauí, que frequentemente passa despercebida em nível nacional. Com isso, os mestres e mestras da dança, cujo trabalho muitas vezes é esquecido, ganham visibilidade.
O processo criativo
Eduardo Pontin destacou que a origem da dança ancestral é afro-indígena e remonta ao século XIX, enraizada na cultura local. “É o retrato desse povo, que com muita dificuldade soube vencer os obstáculos da vida e triunfar. Eles moram ali há gerações”, afirmou. A escrita do livro levou cerca de dois anos e foi ambientada em um processo de viagem e pesquisa pela região, no qual o casal conheceu diversos mestres da lezeira.
Ao todo, foram entrevistados cerca de 80 mestres, em um raio de 180 km, o que demonstra o empenho e a dedicação na construção da obra. “Fomos conhecendo os mestres da lezeira e construindo uma teia, onde um indicava o outro”, explicou Eduardo. Essa abordagem colaborativa permitiu um aprofundamento maior nas histórias e tradições que cercam a dança, trazendo à tona relatos que, de outra forma, poderiam ter se perdido com o tempo.
Inovações na obra
Um aspecto inovador do livro é a possibilidade de os leitores ouvirem as canções que acompanham a dança por meio de um QR code. Isso proporciona uma experiência imersiva, permitindo que o público sinta a musicalidade e a vivacidade da cultura piauiense. O sonoplasta José Dantas ficou encarregado de capturar o ritmo da dança, enfatizando o uso dos pés como instrumento musical. “Me chamou muita atenção o protagonismo do ritmo batido só pelo pé. Então eu coloquei microfone para captar as pisadas. A nova geração vai curtir”, comentou.
Reconhecimento e futuro
Para Francisca Sousa, a indicação ao Prêmio Jabuti vai muito além de uma simples premiação. Trata-se de uma oportunidade de colocar o Piauí em um espaço de destaque no cenário cultural do Brasil. “Mestres e mestras começam a ter voz e rosto, por meio do livro. A cultura do Piauí recebe destaque nacional”, disse a autora, emocionada com a possibilidade de ver a cultura local valorizada e divulgada em todo o país.
O resultado do Prêmio Jabuti será anunciado em um evento programado para o dia 27 de outubro, e os vencedores serão divulgados no site oficial da premiação. A expectativa é grande, não apenas para os autores, mas também para toda uma comunidade que vê na literatura uma forma de perpetuar suas tradições e fortalecer sua identidade cultural.
O livro “Vamô vadiá nessa lezeira” não é apenas uma publicação, mas sim um testemunho da riqueza cultural piauiense, um convite para que mais pessoas conheçam e apreciem as tradições de um povo que, com muito orgulho, dança sua história e suas conquistas através da lezeira.