O ex-presidente Donald Trump gerou indignação ao publicar, nesta semana, vídeos gerados por inteligência artificial de conteúdo racista e difamatório envolvendo líderes democratas, incluindo os titulares do Senado e da Câmara dos Deputados dos EUA. As ações ocorreram em meio à crise de orçamento que levou ao fechamento parcial do governo federal.
Reação aos vídeos de AI e impacto político
Trump compartilhou inicialmente um vídeo de AI que satirizava o líder da minoria na Câmara, Hakeem Jeffries, usando um chapéu de mariachi e um bigode, acompanhado por uma música típica mexicana. O áudio falsificado dizia, de forma depreciativa, que os democratas buscavam conquistar votos entre imigrantes ilegais — uma narrativa baseada em estereótipos e desinformação.
Jeffries afirmou, em entrevista à MSNBC, que o vídeo era “disgustante” e exigiu que o ex-presidente confrontasse “de frente”, ao vivo. “Não se esconda atrás de um vídeo racista e falso”, declarou o democrata. O episódio também incluiu uma troca de mensagens nas redes sociais, onde Trump divulgou outro vídeo de AI, que mostrava Jeffries com características caricatas e uma banda de mariachi, com seu rosto sobre integrantes do grupo.
Consequências e críticas à conduta de Trump
Analistas apontam que a disseminação de conteúdos de AI ofensivos por Trump reflete uma deterioração do discurso político nos Estados Unidos. Conor Dowling, professor de ciência política na Universidade de Buffalo, destacou que há uma “desensibilização” crescente diante de conteúdo ofensivo compartilhado por figuras públicas, especialmente na era digital.
“O que mais preocupa é a desinformação. Trump parece usar esses vídeos para distorcer debates e criar narrativas prejudiciais, influenciando a opinião pública de forma enganosa”, afirmou Dowling. Ele também comentou que a atitude do ex-presidente rompe com a tradição presidencial, que preza por um comportamento “decent” e “respeitável”.
Risco de normalização e desafios futuros
Especialistas alertam que a propagação de vídeos gerados por IA com fins de desinformação pode afetar ainda mais o cenário político, dificultando a distinção entre fatos e ficções. Grant Reeher, professor da Universidade de Syracuse, afirmou que, anteriormente, conteúdos desse tipo eram produzidos por outros, mas agora estão sendo publicados diretamente sob o nome do próprio ex-presidente.
“Essa popularização de vídeos de IA, muitas vezes, com intenções enganosas, exige atenção redobrada da sociedade para identificar e combater notícias falsas”, advertiu Reeher. A preocupação é que a automatização e o uso dessas ferramentas possam alimentar uma cultura de polarização, além de prejudicar o diálogo político democrático.
Perspectivas de combate à disseminação de desinformação
Professores de ciência política destacam a necessidade de maior atenção por parte do público e das plataformas digitais para identificar conteúdos falsificados. Dowling ressalta que, embora seja difícil discernir a origem de materiais gerados por IA, é fundamental estimular uma postura crítica diante do que é consumido nas redes sociais.
“A responsabilização por esse tipo de conteúdo deve recair tanto sobre os usuários quanto sobre as plataformas que o veiculam. É um desafio complexo, mas essencial para preservar a integridade do debate público,” concluiu Dowling.
Este artigo é uma adaptação de informações originalmente publicadas pelo HuffPost.