A conferência internacional “Raising Hope for Climate Change”, mais conhecida no Brasil como “Espalhando Esperança”, ocorreu entre os dias 1 e 3 de outubro em Castel Gandolfo, e trouxe à tona importantes reflexões sobre a relação entre fé e meio ambiente. Com a presença do Papa Leão XIV e da ministra brasileira do Meio Ambiente, Marina Silva, o evento reuniu mais de mil participantes de 80 países, todos buscando respostas sobre como cuidar melhor da criação divina.
Momento de reflexão e ação
Ao encerrar sua participação no evento, o Papa Leão XIV deixou uma pergunta provocativa a todos os presentes: “Deus nos perguntará se cultivamos e cuidamos do mundo que ele criou, para o bem de todos e das futuras gerações, e se cuidamos de nossos irmãos e irmãs. Qual será a nossa resposta?”. Essa indagação tocou profundamente Luciano Moura Machado, geógrafo e coordenador da Pastoral da Ecologia Integral em São Paulo. Para ele, essa questão existe não apenas como um dilema moral, mas também como um chamado à ação efetiva.
Desde 2014, Machado tem se envolvido ativamente na temática ambiental, especialmente após a publicação da Encíclica Laudato si’, que incentivou católicos a se engajar na proteção do meio ambiente. Ele compartilha que, em sua diocese, foi criada uma Comissão Socioambiental para popularizar os ensinamentos da Encíclica e motivar ações concretas em prol da sustentabilidade. “A fé é o diferencial”, afirma Machado, destacando como as comunidades religiosas podem se unir ao movimento ambientalista.
A relação entre fé e ecologia
O cardeal Jaimer Spengler, presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e arcebispo de Porto Alegre, acrescentou perspectivas valiosas sobre a conexão entre fé e ecologia. “É uma questão de relações que nos interpela a cuidar da natureza como obra divina”, disse ele, enfatizando a importância do respeito a todas as formas de vida criadas por Deus. Em seu discurso na conferência, Spengler abordou a esperança e como a Igreja no Brasil já possui uma trajetória significativa nas discussões socioambientais.
Ele citou a expansão da Pastoral da Ecologia Integral e a criação de grupos focados em temas como a mineração e a preservação dos aquíferos. “O Brasil e a Igreja cresceram muito no debate sobre a questão ecológica”, afirmou o cardeal, comprometendo-se a continuar essa luta em favor do meio ambiente.
O papel do Brasil nas questões climáticas
A importância do Brasil nesse contexto não pode ser subestimada. Em novembro, Belém sediará a 30ª conferência das Nações Unidas sobre o clima (COP30). Durante a conferência “Espalhando Esperança”, a ministra Marina Silva convidou o Papa a participar do evento em Belém, ressaltando a responsabilidade do país em demonstrar seu compromisso com a preservação ambiental diante do mundo.
Segundo Dom Ricardo Hoepers, secretário geral da CNBB, o Brasil é visto como um exemplo de riqueza socioambiental, e tem a tarefa crucial de equilibrar essa riqueza com a dignidade humana. “É essencial cuidar do nosso patrimônio ambiental enquanto enfrentamos desigualdades sociais”, frisou Hoepers.
Mobilização e esperança
Igor Bastos é outro participante brasileiro que se destacou na conferência. Ele compartilhou sua experiência ao fundar uma fraternidade da Juventude Franciscana e como suas atividades o levaram a colaborar na elaboração da Encíclica Laudato si’ em 2015. Hoje, ele é diretor do Movimento Laudato si’ no Brasil e enfatizou a importância do evento na mobilização da comunidade. “A conferência é uma faísca para multiplicar a esperança e novos trabalhos em paróquias e comunidades”, afirmou Bastos, ressaltando que é a fé que pode nos unir em torno de uma causa tão vital.
A mensagem final de Machado ressoou por todo o evento: “Em tempos de crises, não podemos perder a esperança. Com fé, podemos mover montanhas — e, nesse caso, preservar nosso planeta”. Assim, a conferência “Espalhando Esperança” não apenas inspirou reflexões, mas também promoveu um chamado à ação solidária e consciente em defesa do meio ambiente.
