Nos últimos meses, o Brasil tem enfrentado um alarmante aumento no número de casos suspeitos de intoxicação por metanol, com o total subindo para 225. As autoridades de saúde e especialistas alertam para a gravidade da situação, que envolve principalmente a produção clandestina de bebidas alcoólicas adulteradas. Segundo dados que foram veiculados pelo programa Fantástico, o país fechou, em média, uma fábrica clandestina de bebidas a cada cinco dias entre 2022 e 2024, evidenciando a preocupação com a segurança dos consumidores.
A gravidade da adulteração de bebidas
O metanol é uma substância tóxica que, quando encontrada em bebidas, pode causar sérios problemas de saúde, incluindo cegueira, insuficiência respiratória e até morte. A professora de Engenharia Química Bruna Pratto ressaltou que “certamente é um caso de adulteração”, explicando que nas fábricas legalmente controladas não há quantidade suficiente de metanol para representar risco ao consumidor. O problema reside, portanto, em pequenos esquemas ilegais de adulteração que estão proliferando no Brasil.
Para tentar restaurar a confiança dos consumidores, o setor legal de bebidas se mobiliza. Cristiana Foja, presidente da Associação Brasileira de Bebidas, afirma que “o produto legal é confiável” e que as empresas sérias seguem padrões rígidos de produção. Contudo, o desafio é garantir que os consumidores tenham acesso apenas a produtos seguros, em meio ao crescimento do mercado ilegal.
Histórico de intoxicações por metanol no Brasil
O Brasil já vivenciou ondas de intoxicações por metanol em outras épocas. Em julho de 1990, 18 pessoas morreram na Bahia após consumir pinga adulterada. Em dezembro de 1992, um evento em Diadema resultou na internação de várias pessoas após o consumo de uma bebida chamada “bombeirinho”, que continha vodca, groselha e limão, culminando em três mortes. Já entre 2016 e 2023, 11 mortes de dependentes químicos, em sua maioria em situação de rua, foram registradas, mas pouco divulgadas pela mídia.
Como o metanol afeta o corpo humano?
O metanol, apesar de ser incolor e parecer inofensivo à primeira vista, torna-se altamente perigoso ao ser ingerido. Os sintomas de intoxicação podem começar a aparecer em até 24 horas, apresentando-se inicialmente como náuseas, cólicas e dor abdominal, evoluindo para visão turva e tontura. O fígado, a medula e o cérebro são gravemente afetados, com o metanol podendo causar, entre outras consequências, danos irreversíveis ao nervo óptico.
Tratamento e prevenção
O tratamento para intoxicação por metanol envolve a administração de antídotos, sendo o mais comum o fomepizol. Este medicamento foi recentemente importado do Japão e é fundamental para prevenir a transformação do metanol em substâncias ainda mais tóxicas no organismo. Quando o fomepizol não está disponível, o etanol, similar à cachaça, pode ser utilizado como alternativa, ocupando as enzimas do fígado que, de outra forma, se ligariam ao metanol.
É crucial destacar que tanto o fomepizol quanto o etanol devem ser administrados sob rigorosa supervisão médica. O recente anúncio do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, sobre a importação de 2,5 mil tratamentos de fomepizol, representa um passo importante na luta contra a intoxicação por metanol no Brasil. Assim, enquanto o governo intensifica as operações para desmantelar laboratórios clandestinos, a população deve ser informada sobre os riscos do consumo de bebidas adulteradas.
Conclusão
A crescente presença de casos de intoxicação por metanol no Brasil suscita preocupações não apenas sobre a saúde pública, mas também sobre a eficácia das medidas de fiscalização. A luta contra a produção clandestina de bebidas é uma batalha que precisa ser intensificada para proteger os consumidores. A segurança na ingestão de bebidas alcoólicas deve ser uma prioridade, e todos têm um papel a desempenhar para garantir que a produção de bebidas siga padrões de qualidade e segurança.