No Jubileu de Ouro da Associação Inter-Regional dos Bispos da África Austral (IMBISA), realizado em Matshapa, no Reino de Eswatini, Dom Zeferino Zeca Martins, Arcebispo Metropolita do Huambo em Angola, enfatizou a relevância da pastoral dos migrantes e o papel da Igreja em promover a dignidade humana. Com palavras que refletem a experiência e a compreensão profunda da realidade migratória, ele lembrou que todos somos, em essência, migrantes neste mundo.
Uma pastoral de proximidade e compaixão
Dom Martins destacou o crescimento da pastoral dos migrantes em Angola, resultado do trabalho colaborativo da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé e Príncipe (CEAST) e das Irmãs Scalabrinianas. Estas últimas desempenham um papel crucial ao ajudarem os imigrantes na integração cultural e social. “As mulheres aprendem a língua, recebem formação para cuidar dos filhos e acessam saúde e educação. É um trabalho paciente e transformador”, afirmou o Arcebispo.
A formação contínua é a base desse trabalho. “Formamos jovens e adultos em várias dioceses sobre a realidade do migrante e como a Igreja deve apoiá-los com respeito e amor”, explicou. A inclusão de funcionários do Estado, incluindo aqueles da imigração e da polícia, é também parte dessa formação, assegurando que todos os envolvidos tratem os migrantes com a dignidade que lhes é devida.
O próprio Jesus foi imigrante
Ao refletir sobre a origem da pastoral dos migrantes, Dom Martins se referiu ao exemplo de Cristo, que em sua vida foi também um peregrino. “Jesus, que nasceu em Belém e fugiu para o Egito, nos ensina que a Igreja deve lembrar que todos somos, de alguma forma, peregrinos”, ressaltou num tom que ecoou entre os presentes.
Ele convocou a Igreja a agir como “voz de alento” em um mundo dividido por guerras e injustiças, enfatizando a importância de cada um reconhecer no próximo a imagem e semelhança de Deus. A ideia de acolhimento e compaixão, palavras-chave da sua mensagem, ecoaram por todo o evento. “Devemos ver o mundo como nossa casa comum”, acentuou Dom Martins.
A integração dos migrantes: um desafio e uma missão
Questionado sobre os desafios da integração dos migrantes em Angola, o Arcebispo expôs que a CEAST tem um papel ativo não apenas na acolhida, mas também na defesa dos direitos humanos. “Existem famílias que vivem anos sem documentos, sem acesso à educação e saúde. A Igreja faz advocacia e diz ao Estado: estas pessoas são filhos de Deus, merecem dignidade”, afirmou com firmeza.
Para Dom Martins, o tratamento dado aos mais vulneráveis é a verdadeira demonstração da autenticidade cristã da Igreja. “A credibilidade da Igreja reside na sua proximidade com os pobres e marginalizados. O amor é a essência da nossa fé”, finalizou.
Uma vocação nascida da experiência
Em um momento de despojamento, o Arcebispo compartilhou que sua paixão pela pastoral teve origem na sua própria experiência como capelão de imigrantes em Madrid, onde trabalhou por muitos anos. “Quando voltei para Angola, fui mais motivado a continuar esse trabalho, agora com mais amor e dedicação. Esta é uma pastoral que me encanta profundamente”, relatou.
Seguindo essa linha de raciocínio, Dom Martins concluiu sua participação no Jubileu afirmando que, onde quer que esteja, sempre se sentirá um imigrante. “Todos somos peregrinos nesta jornada. E a missão da Igreja é acompanhar esse caminho com amor, justiça e compaixão”, destacou.
O Jubileu de Ouro da IMBISA, com o tema ‘Uma Jornada Sinodal, Alimentada pela Compaixão e Florescendo na Fé como Peregrinos da Esperança’, reafirmou a vocação da Igreja na África como um pilar de acolhimento e apoio aos mais vulneráveis, reconhecendo em cada migrante a face de Cristo. Neste contexto, fica evidente que a mensagem de amor e acolhimento dirigida aos migrantes é um dos objetivos centrais da Igreja em sua missão de promover a dignidade humana.
Para ouvir as palavras de Dom Zeferino Zeca Martins, acesse [aqui](https://media.vaticannews.va/media2/audio/s1/2025/10/06/13/138824033_F138824033.mp3).