O preço do azeite de oliva, que disparou nos anos recentes, vem apresentando sinais de estabilidade e queda neste ano. Segundo Jorge de Melo, CEO do Grupo Sovena, a grande companhia portuguesa do setor, a redução já alcançou cerca de 20% em 2025, e há expectativa de que o valor siga diminuindo no mercado brasileiro, onde a marca Andorinha domina atualmente uma fatia de 30% do mercado nacional.
Perspectivas para o mercado do azeite de oliva no Brasil
Em entrevista ao GLOBO, Melo admite que a seca sem precedentes na Europa, principal região produtora, impactou negativamente o consumo. No entanto, ele aposta em um crescimento sustentável do mercado brasileiro, por meio de ações de aproximação do público com o produto.
Iniciativa de experiências sensoriais e gastronômicas
Um exemplo dessa estratégia é a Casa Andorinha, restaurante temporário aberto em Botafogo, na Zona Sul do Rio, que desde a última semana oferece uma experiência de produção do azeite e pratos preparados com ingredientes extravirgem. Segundo Melo, a ação busca reforçar o posicionamento da marca e ampliar o interesse do consumidor brasileiro, que ainda possui grande potencial de crescimento, já que cerca da metade da população não consome azeite atualmente.
“Vivemos um momento em que o preço do azeite no Brasil tende a se estabilizar e até diminuir, graças às novas safras e à maior eficiência na produção,” afirmou o executivo. A produção própria da Sovena, que conta com cerca de 9 mil hectares de olival cultivado mecanicamente, garante maior controle de qualidade e agilidade na fabricação do azeite extravirgem.
Impacto da seca e mudanças climáticas
De Melo destaca que fenômenos climáticos, como a seca na Espanha e o aumento da temperatura na Europa, têm afetado a safra ao reduzir a quantidade de azeite disponível no mercado. Ainda assim, ele reforça que a empresa acompanha de perto as medidas para adaptação às mudanças climáticas, utilizando tecnologia de irrigação que permite monitorar o uso de água e assegurar a qualidade do produto.
Desafios nos Estados Unidos e negociações tarifárias
Nos EUA, onde a Sovena investe para expandir sua presença, houve impacto das tarifas impostas por Donald Trump, que aplicam até 25% de impostos na matéria-prima importada da Europa e Tunísia. Melo explica que a companhia está em tratativas com o governo americano, através da North American Olive Oil Association, para obter uma isenção tarifária, sob o argumento de que o azeite é um produto não produzido localmente e que a taxação prejudica o consumidor final.
“Estamos buscando argumentos convincentes de que o azeite é fundamental para uma alimentação saudável e que não há alternativas domésticas nos Estados Unidos,” afirmou. A estratégia inclui também o lobby legalizado para defender os interesses da empresa.
O potencial de crescimento do mercado brasileiro
Segundo Melo, há ainda espaço considerável para ampliar o consumo de azeite no Brasil. “Metade da população brasileira ainda não consome azeite, e as condições para redução de preços e maior acesso são favoráveis,” enfatiza. A própria marca Andorinha, que já detém 30% de um mercado bastante competitivo, busca consolidar sua presença e explorar as oportunidades de crescimento, especialmente no segmento de novos usos culinários.
Para o executivo, produzir azeite no Brasil é uma possibilidade futura, embora atualmente a produção local ainda seja limitada e enfrentem desafios climáticos, como o excesso de chuva e a necessidade de regiões específicas para cultivo de oliveiras de qualidade.
Com faturamento de €1,8 bilhão (R$11,3 bilhões), a Sovena mantém operações na Europa, América e África, e busca ampliar sua competitividade frente às dificuldades climáticas e tarifárias. Melo reforça que a sustentabilidade e a inovação serão essenciais para o desenvolvimento do setor nos próximos anos.
Fonte: GLOBO