Desde o início da última semana, o Brasil enfrenta um surto alarmante de intoxicações por metanol. Essa substância química está sendo adicionada ilegalmente em bebidas alcoólicas como um substituto mais barato para o etanol, causando graves riscos à saúde. A última atualização divulgada pelo Ministério da Saúde na tarde da sexta-feira (3/10) confirmou que o Brasil ultrapassou a marca de 100 casos suspeitos, com pelo menos 113 notificações de contaminação por metanol registrados em cinco estados e no Distrito Federal.
A gravidade da situação
Desse total, 11 casos foram confirmados, todos no estado de São Paulo, que se tornou o epicentro da crise. Infelizmente, já foi registrada uma morte decorrente da intoxicação por metanol, e outras 11 mortes estão sob investigação.
Números oficiais de intoxicação por metanol no Brasil
- São Paulo: 101 notificações – 11 casos confirmados e 90 casos suspeitos em investigação. Um óbito confirmado e oito em investigação.
- Pernambuco: 6 casos suspeitos em investigação. Um óbito em investigação.
- Distrito Federal: 2 casos suspeitos em investigação.
- Bahia: 2 casos suspeitos em investigação. Um óbito em investigação.
- Paraná: 1 caso suspeito em investigação.
- Mato Grosso do Sul: 1 caso suspeito em investigação. Um óbito em investigação.
Em resposta à crise, a Polícia Federal (PF) iniciou investigações sobre a origem e a rede de distribuição de bebidas alcoólicas adulteradas com metanol desde a terça-feira (30/9). As apurações preliminares sugerem que quadrilhas especializadas na adulteração de bebidas podem estar por trás dessa situação crítica, envolvendo também tráfico de combustíveis e importação irregular de metanol pelo Porto de Paranaguá (PR).
Investigação e responsabilidade criminal
A Polícia Federal está trabalhando com a hipótese de que a adulteração de bebidas alcoólicas com metanol seja uma prática coordenada que vai além de produtores clandestinos isolados, com indícios de envolvimento de facções criminosas. A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) relacionou as substâncias encontradas em bebidas em São Paulo ao metanol importado ilegalmente pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para misturar combustíveis.
Uma das linhas de investigação da Polícia Civil de São Paulo sugere que quadrilhas responsáveis por vender bebidas falsificadas possam ter usado metanol para limpar garrafas de bebidas originais, resultando na contaminação dos produtos. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que tem realizado operações diárias para fiscalizar a venda de bebidas e rastrear a origem de produtos adulterados, tendo interditado nove estabelecimentos suspeitos na capital e na Grande São Paulo.
Aumento repentino no número de casos
O número de casos suspeitos de intoxicação por metanol tem crescido rapidamente. Apenas entre a noite de quinta e sexta, o número de casos aumentou 91,5%, passando de 59 para 113 notificações. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, alertou que a tendência é que os casos continuem aumentando.
Casos suspeitos também têm sido registrados em outros estados, com um rapper conhecido internado em estado preocupante e investigações em andamento em cidades como Feira de Santana e Salvador na Bahia, além de Curitiba no Paraná.
O que é metanol e por que é perigoso?
O metanol, conhecido como álcool metílico, é utilizado na indústria como solvente e na produção de combustíveis, entre outros produtos. Seu uso ilegal para substituir o etanol em bebidas alcoólicas representa um extremo risco à saúde, pois é altamente tóxico. A ingestão de metanol pode provocar efeitos nocivos que atingem o sistema nervoso central, podendo resultar em cegueira, falência de órgãos e até morte, mesmo em doses pequenas.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já estabeleceu procedimentos emergenciais para a fabricação de álcool etílico absoluto, usado como antídoto no tratamento de intoxicações por metanol.
O Brasil precisa agir rapidamente e com as devidas cautelas para enfrentar este surto e proteger os cidadãos do consumo de bebidas potencialmente letais.