Um cenário desolador se desenha no distrito de Uiraponga, em Morada Nova, no interior do Ceará. Há mais de dois meses, a localidade se transformou em um verdadeiro “território-fantasma”, resultado da ação de facções criminosas que expulsaram os moradores de suas casas. Neste contexto de violência, mais de duas mil pessoas deixaram suas residências em busca de segurança, enquanto a polícia afirma que a situação ora está sob controle.
O êxodo de Uiraponga
As tensões começaram a aflorar em julho, quando integrantes de facções criminosas começaram a disputar o controle do território. O delegado Ricardo Pinheiro, diretor do Departamento de Repressão do Crime Organizado (DRCO) da Polícia Civil, destacou que as pessoas deixaram Uiraponga principalmente devido ao medo pela sua integridade física. “Houve ameaças e disparos nas residências de familiares de rivais, o que levou muitos a abandonarem suas casas”, explicou o delegado Pinheiro.
Após a prisão de um dos líderes da facção que dominava a região, em julho, a Polícia Civil assegurou que a situação começou a se estabilizar. “Desde então, apenas um homicídio foi registrado na cidade e não teve relação com o que aconteceu em Uiraponga. A população precisa de um tempo para se sentir segura novamente”, afirmou Pinheiro.
O tenente-coronel Antônio Gonçalves Cavalcante, comandante do Batalhão de Choque da Polícia Militar, corroborou essa ideia, garantindo que o policiamento está presente 24 horas no distrito. “A população não tem mais motivos para temer”, afirmou.
A vida em Uiraponga após a debandada
Com a saída em massa de moradores, Uiraponga se tornou uma localidade inviável. O vilarejo, que outrora era sinônimo de tranquilidade, viu seus comércios fecharem as portas. Um morador, que preferiu não se identificar, comentou sobre a situação: “Com a saída das pessoas, a sensação de insegurança aumentou e aqueles que ficaram começaram a deixar também.”
O vazio deixado pela população é palpável nas ruas desertas. Os pontos comerciais foram os primeiros a fechar, culminando na inutilidade do posto dos Correios, na paralisação dos serviços de saúde e até mesmo na interrupção das missas, já que o padre não tinha mais fiéis para acolher. As escolas foram fechadas e as salas de aula, antes cheias, agora estão apenas com materiais jogados ao chão, evidenciando a pressa do êxodo.
A presença policial e os desafios futuros
Curiosamente, a escola de Uiraponga agora serve como base para os policiais, que realizam constantes patrulhas na área. Animais abandonados vagam por entre as ruas, relatando um desamparo ainda maior nesse ambiente de insegurança. “Eles precisam de alimento e cuidados, assim como muitos dos moradores que tiveram que deixar suas vidas para trás”, lamenta uma moradora, que ainda se preocupa com os animais deixados para trás.
A situação continua a ser monitorada pelas autoridades, mas a sensação de insegurança ainda paira sobre os poucos que permanecem na localidade. Mesmo com a presença policial, o receio de represálias e novos confrontos faz com que a população hesite em retornar.
Enquanto as autoridades tentam amenizar a situação, as lutas entre facções seguem sendo uma sombra sobre a vida em Uiraponga. Recuperar o que foi perdido será um desafio que exigirá mais do que apenas policiamento; será preciso reconstruir a confiança e a segurança que outrora existiam nessa comunidade.
Em meio a tanta tristeza, resta à população a esperança de que a normalidade seja restabelecida e que Uiraponga volte a ser um lar seguro para seus moradores.