No contexto dos Jubileus dos Migrantes e do Mundo Missionário, o bispo e vigário apostólico dos Emirados Árabes Unidos, Omã e Iémen, Paulo Martinelli, compartilha a singularidade das comunidades católicas nesses países. Semelhantes em ritos e práticas, essas comunidades são, em essência, uma verdadeira expressão da Igreja universal, onde migrantes se tornam missionários.
A singularidade do Vicariato
“Nossa Igreja é formada por migrantes. Essa é uma característica que torna o nosso Vicariato único no mundo”, afirma o bispo Martinelli. Nomeado vigário apostólico da Arábia Meridional pelo Papa Francisco em maio de 2022, Martinelli destaca a diversidade cultural que enriquece a comunidade católica, onde cerca de 100 nacionalidades estão representadas. “É uma migração por trabalho, onde todos os nossos fiéis vêm de países distintos e devem renovar suas permissões de estadia constantemente”, explica.
A pluralidade da fé católica na região é notável: apenas nos Emirados Árabes Unidos, dos cerca de 10 milhões de habitantes, mais de 850.000 são católicos. Em Omã, as estimativas apontam para aproximadamente 100.000 católicos em uma população de 4,5 milhões. Já no Iémen, onde a estrutura da Igreja é menos organizada, torna-se desafiador obter dados precisos. A pandemia também impactou consideravelmente a presença de trabalhadores estrangeiros na região, acrescenta o vigário.
Os Jubileus como oportunidade de união
Um grupo expressivo de fiéis do sul da Arábia participará dos Jubileus programados para os dias 4 e 5 de outubro. “Uma grande representação já esteve em Roma para o Jubileu da Juventude e, logo após, no Jubileu dos Catequistas, onde tivemos a alegria de entregar o ministério a uma de nossas catequistas, Catherine Miles-Flynn”, destaca. Para Martinelli, unir as celebrações dos missionários e migrantes é uma forma de fortalecer a mensagem do Papa Leão para 2025: tornar-se “missionários da esperança”.
Esse entendimento é uma evolução significativa da Igreja em relação aos migrantes, que são vistos não apenas como objetos de atenção, mas como protagonistas na vida cristã. “Nossos fiéis reconhecem que têm um papel ativo em sua fé e são chamados a testemunhar seus valores em suas vidas cotidianas”, completa o bispo.
Um diálogo inter-religioso enriquecedor
O diálogo inter-religioso é essencial neste contexto e deve sempre ser permeado por testemunhos históricos. “Viver nossa fé em comunhão com pessoas de diferentes credos nos permite conviver de forma estável no temporário,” explica Martinelli. Ele acrescenta que as dificuldades enfrentadas na migração muitas vezes levam as pessoas a um redescobrimento da fé, criando um entendimento mais significativo sobre as relações inter-religiosas.
Nos Emirados, a visita do Papa Francisco e a assinatura do Documento sobre a Fraternidade Humana representam passos importantes em direção à paz e ao entendimento mútuo. Em Omã, o foco está na promoção da tolerância e boas relações sociais, para que todos possam viver sua filiação religiosa com dignidade. Contudo, a situação no Iémen é mais complexa, marcada por conflitos civis e pobreza extrema. Apesar das dificuldades, há esforços contínuos para revitalizar a presença da Igreja e promover ações de caridade, principalmente por meio da Cáritas e da iniciativa das Irmãs de Madre Teresa.
Martinelli enfatiza que as comunidades no Iémen, mesmo em meio à adversidade, estão comprometidas em ser “missionários da esperança”, através de suas ações e testemunhos no dia a dia. É nessa luta pela paz e justiça que se manifesta a verdadeira essência das comunidades católicas na região.
Ao celebrar Jubileus, essas comunidades reafirmam sua identidade de unidade e diversidade, mostrando que mesmo em meio a desafios, a fé e a esperança são músicas que ecoam em todas as nações.
Os Jubileus dos Migrantes e Missionários não são apenas uma celebração, mas uma oportunidade para reforçar a presença católica no Oriente Médio e promover diálogos que construam pontes entre diferentes culturas e religiões.