Dentro da máquina mais complexa já criada pela humanidade, um feixe de laser atinge uma gota de estanho 50 mil vezes por segundo, gerando temperaturas 40 vezes superiores àquelas encontradas na superfície do Sol. Esse processo faz parte da fabricação de semicondutores avançados. O equipamento, quase de ficção científica, fabricado pela empresa holandesa ASML, simboliza a diferença entre a China e o Ocidente, mas a verdade é que o país asiático está quase alcançando esse patamar tecnológico.
A impressionante comparação entre EUA e China na tecnologia
Jensen Huang, CEO da fabricante de chips Nvidia, afirma que a China está apenas “nanosegundos atrás” no desenvolvimento de equipamentos avançados. Essa afirmação tem grandes implicações para as negociações comerciais entre os EUA e a China que estão ocorrendo atualmente. Apesar da retórica belicosa que frequentemente vem da Casa Branca e do Capitólio, não deve surpreender se as duas partes chegarem a um acordo pragmático.
Com os dois países tão equilibrados tecnologicamente, a administração Trump pode optar por uma abordagem de colaboração em áreas específicas, incluindo a tecnologia avançada, em vez de uma disputa acirrada. Usando uma jargão militar para descrever a competição econômica, Washington está perdendo sua “dominância de escalada”, o que significa que não consegue mais intimidar Pequim facilmente. A China não apenas suportou as punições impostas pelos EUA, sob a forma de tarifas e sanções, como também tem força para contra-atacar, como demonstrado quando interrompeu o fornecimento de ímãs de terras raras—utilizados em tudo, desde carros até mísseis—fato que levou o presidente Donald Trump a voltar à mesa de negociações.
Avanços tecnológicos que desafiam o Ocidente
Outros exemplos que evidenciam essa dinâmica incluem a Huawei, potência tecnológica chinesa que agora compete de igual para igual com a Apple, oferecendo smartphones com seus próprios chips. Uma startup chinesa chamada DeepSeek desenvolveu sua versão do ChatGPT, e a BYD, gigante dos veículos elétricos, já vende mais unidades que a Tesla em mercados como a Europa. Esses e outros produtos feitos na China, como caças stealth, robôs humanoides e satélites, podem não ser sempre os melhores, mas são suficientemente bons, o que sinaliza um ponto de inflexão significativo.
Washington tem muitos motivos para colaborar com Pequim em vez de arriscar um confronto. Em certos setores tecnológicos, a China não apenas alcançou, mas ultrapassou, a ponto de os EUA possivelmente nunca conseguirem competir novamente. A Bloomberg reportou que um grupo de capitalistas de risco americanos, que realizava uma viagem pela China para visitar fábricas e conversar com fundadores de startups, ficou tão impressionado com os avanços chineses que decidiram que setores-chave no Ocidente estão agora “ininvestíveis”. Yair Reem, sócio da Extantia Capital, declara que para a indústria de baterias “é jogo encerrado”. O CEO da Ford, Jim Farley, destaca que a China “domina completamente” a Tesla, GM e Ford no setor de veículos elétricos.
O pragmatismo nas relações comerciais entre EUA e China
Trump já mostrou seu lado pragmático ao estabelecer um acordo que manteve o TikTok em operação nos Estados Unidos. Para isso, ele precisou ignorar um ato do Congresso, afastar os falcões em ambos os partidos e desconsiderar preocupações de segurança nacional. O resultado foi um acordo de licenciamento em que a proprietária chinesa do TikTok manteve a posse do algoritmo essencial e um grupo de investidores americanos gerenciou a operação.
Esse modelo de licenciamento é amplamente utilizado por empresas farmacêuticas dos EUA para acessar terapias contra o câncer que estão sendo desenvolvidas em laboratórios chineses. A Ford, por exemplo, planeja licenciar tecnologia do líder em baterias chinesa CATL em uma planta que está em construção em Michigan.
Ironia do destino, essa foi a forma pela qual a China obteve boa parte de sua tecnologia dos EUA enquanto esvaziava seções da indústria americana. Virar o jogo contra a China insistindo na transferência de tecnologia como preço do investimento nos EUA poderia ser uma estratégia inteligente para Washington.
Assim, os EUA podem não ter uma alternativa real a essa cooperação com a China.