O afastamento do governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos), e da primeira-dama, Karynne Sotero, completa um mês nesta sexta-feira (3). Eles foram suspensos pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) durante a segunda fase da operação Fames-19, da Polícia Federal, que investiga um suposto esquema de desvio de recursos públicos em contratos para a compra de cestas básicas durante a pandemia de Covid-19. Desde então, o vice-governador Laurez Moreira (PSD) assumiu o cargo.
Contexto do afastamento
A defesa de Karynne afirmou que “está acompanhando o governador Wanderlei Barbosa nas discussões com os advogados e aguardando a decisão para restabelecer a normalidade jurídica, política e democrática no estado do Tocantins, com o retorno do eleito pelo povo”. Já a defesa de Wanderlei não enviou resposta até a última atualização desta reportagem.
Wanderlei Barbosa e Karynne Sotero devem permanecer afastados por até 180 dias. Em setembro de 2025, o governador afastado entrou com um pedido de habeas corpus para tentar voltar ao cargo. O pedido foi inicialmente recusado por falta de documentação, mas segue sendo analisado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A investigação da operação Fames-19
A operação que levou ao afastamento de Wanderlei Barbosa e Karynne Sotero foi responsável por expor um suposto esquema de desvios de recursos públicos durante o estado de emergência em saúde pública em 2020 e 2021. A Polícia Federal investiga crimes como frustração ao caráter competitivo de licitação, peculato, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de uma organização criminosa.
Na época, Wanderlei Barbosa ocupava a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas), órgão responsável pela aplicação de recursos que deveriam ajudar a população frente à pandemia. As investigações indicam que ele manteve um esquema de desvios por meio de contratações ilícitas.
O papel de Karynne Sotero
As alegações da investigação também apontam que Karynne atuou na organização das contratações, cuidando da parte documental e do cumprimento de requisitos para o recebimento de recursos públicos. Ela teria tido ciência de como as vantagens indevidas eram distribuídas conforme previamente acordado.
Contratações irregulares e fraudes
As investigações revelam que empresas contratadas para fornecer cestas básicas podem ter cometido fraudes. Algumas delas foram apenas abertas antes de serem selecionadas para os contratos, enquanto outras mudaram seus ramos de atividade antes de serem contratadas. Uma empresa supostamente forjou a montagem de cestas básicas, utilizando cestas emprestadas de outra empresa para enganar a fiscalização.
Também foi apurado que uma lista englobando 1.500 nomes e CPFs foi apresentada por uma das empresas como comprovante de recebimento dos produtos, que na verdade nunca foram entregues.
Estrutura do esquema investigado
As investigações apontam que o esquema operava em quatro núcleos. O primeiro incluía agentes políticos, como Wanderlei e Karynne, juntamente com membros do poder Legislativo do Tocantins. O segundo núcleo abrigava servidores públicos que direcionavam licitações e operações. O terceiro, um núcleo empresarial com laranjas simulando concorrência, e, finalmente, um núcleo destinado à lavagem de capitais.
Consequências imediatas do afastamento
No mesmo dia em que Wanderlei foi afastado, Laurez Moreira exonerou todos os secretários do primeiro escalão, em atendimento à recomendação do ministro Mauro Campbell. Essas exonerações foram oficializadas no Diário Oficial do Estado, seguidas pela nomeação de novos secretários ao longo do mês de setembro.
Nas redes sociais, Wanderlei Barbosa expressou que seu afastamento é fruto de uma perseguição política orquestrada por Laurez Moreira. Em resposta, o vice-governador negou as acusações e ressaltou que a situação deve ser resolvida judicialmente, não pessoalmente.
Apartamento em meio aos rumores
Enquanto isso, o Tocantins se vê em uma situação peculiar com dois governadores nas redes sociais. Tanto Wanderlei quanto Laurez se autodenominam “Governador do Tocantins” em suas biografias no Instagram.
A operação Fames-19 segue em andamento, trazendo à tona questões delicadas sobre a gestão pública e a ética no exercício de cargos políticos. Com tudo isso, o estado aguarda ansiosamente as decisões judiciais futuras e a eventual normalização política.
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