Brasil, 3 de outubro de 2025
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Reação de uma trabalhadora sexual a “Anora”: reflexões e insatisfação

Recentemente, o filme “Anora”, dirigido por Sean Baker e estrelado por Mikey Madison, tem dividido opiniões sobre sua representação do trabalho sexual. Apesar de elogios da crítica e reconhecimento em premiações, uma perspectiva importante vem de uma trabalhadora sexual de Nova York, que expressa sua insatisfação e críticos pontos de vista sobre a produção.

Percepções reais do trabalho sexual versus ficção

Emma*, uma acompanhante e dançarina de 25 anos que atua em clubes de Manhattan há dois anos, afirmou que muitas cenas iniciais do filme remetem à sua rotina diária. “Quando assisti às primeiras cenas, senti que estava no meu trabalho, o que indica que eram bem fieis à realidade”, contou. Contudo, ela destacou que há diferenças na representação das relações e comportamentos na tela.

Um momento que a deixou confusa foi quando a personagem Ani oferece sexo ao cliente durante o tempo pago, uma prática que Emma diz não ser comum ou aceitável na sua experiência. “No mundo real, não fazemos isso, pois já recebemos pelo serviço contratado”, explica.

Críticas à idealização e à romantização do trabalho

Dependência e dependência financeira

Emma também apontou sua insatisfação com a forma como o filme retrata Ani ao comemorar seu noivado com Vanya, interpretado na trama. “Ninguém no setor diria algo como, ‘Ela está se apoiando nesse homem que não ganha o próprio dinheiro'”, afirma. Para ela, a autonomia financeira é uma prioridade entre as profissionais, que buscam independência e estabilidade.

Desconexão com a realidade

A personagem Ani aparece como alguém extremamente sintonizada com seu desejo de manter uma aparência sexual hiperssexualizada após o casamento, o que Emma classifica como uma fantasia masculina. “Para nós, atuar dessa forma o tempo todo é uma fachada, uma persona que se coloca no trabalho, não uma característica verdadeira”, explica. Ela alerta que, na vida real, essa postura se desmorona quando o vínculo com o cliente termina.

Reações à ficcionalização do amor e expectativas românticas

Emma criticou a narrativa de que Ani acredita de forma ingênua que seu cliente, Vanya, realmente gostaria de manter um relacionamento sério após tudo. “Ela acha que ele tem algum sentimento por ela, mas na prática, no setor, sabemos que somos facilmente substituíveis”, comenta. Essa percepção reforça o sentimento de ganho econômico, não de amor verdadeiro, no trabalho sexual.

Impactos sociais e comportamentais

A acompanhante também expressou preocupação com a forma como o filme pode influenciar jovens, especialmente homens, ao apresentar uma ideia distorcida do que é o trabalho sexual. “Tem muitos caras jovens que entram no clube achando que vão conquistar uma garota, se apaixonar ou que merecem um tratamento especial por serem ‘bons meninos'”, afirma.

Ela ressaltou a importância de desmistificar esses relacionamentos, que muitas vezes são marcados por entitle mento e expectativas irreais. “Nós sabemos que somos substituíveis e que, em geral, os clientes buscam uma experiência, não uma relação emocional de verdade”, reforça.

Sobre dor, sofrimento e o filme

Por fim, Emma comentou que a narrativa do filme, ao mostrar uma personagem sofrendo emocionalmente, reforça uma visão distorcida do trabalho sexual como uma fonte inevitável de dor. “Apesar de sentir dor em alguns momentos, ela geralmente vem de questões financeiras, não de sentimento ou desejo”, diz.

Ela acrescenta que preferiria um desfecho diferente, como a personagem jogando o número do cliente fora, evitando a romantização de uma ligação emocional que não se sustenta na vida real. “As pessoas lucram com esse ideal de que sexo é uma fantasia triste, mas a nossa realidade é mais complexa e nem sempre tão dramática”, conclui.

*Nome fictício para preservar identidade.

Este depoimento reflete a complexidade de experiências diversas dentro do trabalho sexual e destaca a importância de uma representação mais verossímil e respeitosa na mídia. Como apontado por Emma, a indústria e a sociedade muitas vezes se beneficiam de histórias sensacionalistas, deixando de lado as vozes reais do setor.

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