Nesta quinta-feira (2/10), durante a sessão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) provocou um fervoroso debate ao exibir três vezes trechos da reunião ministerial do governo Jair Bolsonaro (PL). Nas gravações, o ex-presidente admite que poderia mudar pessoas na “segurança” por “não esperar foder a minha família toda”, o que gerou uma série de reações entre os senadores e integrantes da comissão.
Escândalo do INSS
O conteúdo exibido pela senadora não foi à toa. O escândalo do INSS, amplamente investigado nos últimos meses, foi revelado pelo portalMetrópoles em uma série de reportagens iniciadas em dezembro de 2023. O levantamento mostrou que a arrecadação das associações com descontos nas aposentadorias havia crescido exorbitantemente, atingindo a marca de R$ 2 bilhões em apenas um ano. Esta situação alarmante se deu em meio a centenas de processos relacionados a fraudes nas filiações de segurados.
As reportagens do Metrópoles provocaram a abertura de inquérito pela Polícia Federal (PF) e auxiliaram na apuração da Controladoria-Geral da União (CGU). A Operação Sem Desconto, desencadeada em abril de 2024, teve como resultado a demissão de autoridades importantes, como o presidente do INSS e o ministro da Previdência, Carlos Lupi.
O vídeo polêmico
A gravação de abril de 2020, que a senadora Thronicke exibiu, mostra Bolsonaro visivelmente irritado com seus ministros falando sobre investigações que afetavam sua família. Esse material foi coletado no contexto de um inquérito que investigava a suposta interferência do ex-presidente na Polícia Federal após a saída do ex-ministro Sérgio Moro do governo.
O momento gerou risadas entre alguns membros da comissão e uma animada troca de ideias, evidenciando a tensão já presente no debate político. Em um momento, ao mostrar o vídeo, Thronicke dirigiu-se diretamente à audiência, citando uma eleitora que havia perdido a gravação e pediu que fosse exibida novamente. A senadora, então, fez uma provocação a um colega de partido, afirmando que ele nunca tinha visto aquele vídeo, solicitando, por isso, uma nova reprodução. Isso resultou em uma pausa na comissão por 10 minutos para que as partes se acalmassem.
Deputados reagem à exibição
Após o retorno dos trabalhos, o senador Sérgio Moro (União Brasil-PR) pediu a palavra e se opôs à exibição dos vídeos, afirmando que a reunião ministerial tratava-se de um assunto apartado das investigações em curso. Moro enfatizou que teve “ampla autonomia” durante seu período no governo de Jair Bolsonaro, defendendo sua conduta.
No entanto, a senadora Thronicke tentou intervir, argumentando que o vídeo elogiava Moro enquanto revelava o “modus operandi” da administração do ex-presidente. Essa declaração não foi bem recebida pelo presidente da comissão, Carlos Viana (Podemos-MG), que manifestou sua impaciência com o desvio do assunto e ressaltou que o vídeo não poderia ser considerado um elogio.
Parte de um panorama maior
Esse embate não é isolado, mas reflete a polarização política que marca o cenário brasileiro atual. Desde a saída de Bolsonaro da presidência, questões relacionadas ao seu governo e as investigações que envolvem a corrupção têm permanecido no foco das discussões, polarizando opiniões tanto na mídia quanto em debates legislativos. As escolhas e os compromissos assumidos por políticos e figuras públicas estão cada vez mais sob o microscópio da sociedade.
Este episódio na CPMI do INSS evidencia não apenas a busca por transparência nas relações públicas, mas também mostra como os políticos utilizam a mídia e a comunicação a seu favor em momentos de tensão política. Os próximos capítulos dessa história certamente continuarão a atrair a atenção da sociedade e a moldar o futuro político do Brasil.