O clima esquentou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do INSS durante a sessão desta quinta-feira, onde um intenso bate-boca entre os parlamentares foi provocado pela votação do requerimento para convocar Edson Claro Medeiros Júnior, ex-funcionário do empresário Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”. Antunes está sob investigação por suposta participação em um esquema bilionário de fraudes em aposentadorias.
Parlamentares em lados opostos
O deputado Paulo Pimenta (PT-RS), que atua como líder informal da bancada governista na CPI, se opôs à convocação de Edson, ressaltando que a prioridade deve ser a investigação do desvio de verbas. Pimenta afirmou que a meta da CPI é descobrir como o esquema criminoso foi estruturado durante o governo Bolsonaro, a partir de 2019, além de onde o dinheiro desviado dos aposentados foi parar.
“Ninguém me convence que esse dinheiro ficou só na mão de funcionários e familiares. Ninguém monta um esquema bilionário desse sem ter apoio político”, argumentou Pimenta, enfatizando a necessidade de se concentrar nas fraudes em vez de se distrair com a convocação de testemunhas.
Intervenção e regimento
Enquanto Pimenta defendia sua posição, o relator da comissão, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), tentou intervir, mas foi interrompido novamente por Pimenta, que insistiu em um suposto acordo entre os parlamentares sobre a condução das falas. O presidente da CPI, Carlos Viana (Podemos-MG), também interveio, pedindo respeito no tratamento e que a discussão fosse feita de forma civilizada. “No grito aqui ninguém vai ganhar nada”, declarou Viana, alertando para a necessidade de uma condução ordenada dos trabalhos.
Após a troca de palavras elevadas, Pimenta se desculpou pelo tom exaltado, reconhecendo que deveria ter se manifestado de forma mais apropriada.
Importância da convocação de Edson Júnior
No requerimento que pedia a convocação de Edson, os parlamentares argumentam que sua oitiva é “de fundamental importância para o aprofundamento das investigações”. Durante as apurações, Edson revelou que Antunes tinha planos de liquidar veículos de luxo a preços baixos para levantar recursos e que fazia viagens frequentes a Brasília carregando grandes quantias em dinheiro. Ele também mencionou a possibilidade de fuga para os Estados Unidos, o que levanta ainda mais suspeitas sobre o esquema de fraudes.
Além disso, Edson já prestou depoimento à Polícia Civil de São Paulo, em que relatou ter sido ameaçado de morte por Antunes. Um documento obtido pelo GLOBO traz a informação de que Antunes exigia a entrega de aparelhos eletrônicos com dados comprometedores e teria dito: “Se você não me entregar os aparelhos e abrir a boca, eu vou meter uma bala na sua cabeça.”
Desdobramentos da sessão
Durante o depoimento de Antonio Carlos Camilo Antunes à CPI, o relator Alfredo Gaspar questionou o empresário sobre as ameaças feitas a Edson Claro e indagou sobre sua responsabilidade, caso algo grave acontecesse com a testemunha. Antunes, no entanto, se recusou a responder às perguntas e insistiu que a situação se tratava de uma “extorsão frustrada”, clamando ser ele mesmo uma vítima neste caso.
“Quem me conhece sabe que isso é uma situação completamente descabida”, declarou Antunes, tentando desqualificar as acusações feitas contra ele.
A tensão e os conflitos entre os parlamentares refletem a complexidade e a gravidade das investigações em andamento, que buscam esclarecer as fraudes que afetam milhares de aposentados e pensionistas no Brasil. Com os desdobramentos desta CPI, espera-se que mais informações venham à luz nas próximas sessões, trazendo um novo capítulo para este caso controverso.