Na última quarta-feira, 1º de outubro, a primeira-dama Rosângela da Silva, popularmente conhecida como Janja, encontrou-se com mulheres da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito em Caruaru, localizado no interior de Pernambuco. Este evento representa o sétimo aceno de Janja ao segmento evangélico em um período de apenas três meses. Desde julho, a primeira-dama tem se envolvido em diversas agendas em cidades como Rio de Janeiro, Salvador, Manaus e até mesmo no Distrito Federal, além de ter participado de um culto em Nova York e de um podcast sobre a temática.
Diálogo e políticas públicas
O objetivo das reuniões promovidas por Janja é criar um espaço de diálogo onde as mulheres possam discutir suas realidades sociais e as demandas que precisam ser atendidas por políticas públicas. Embora seja católica, Janja tem enfatizado a importância de ouvir as necessidades e desafios enfrentados pelas mulheres evangélicas. Durante o encontro em Caruaru, a primeira-dama realizou intervenções e respondeu a perguntas, fortalecendo os laços com esse importante segmento religioso.
O esforço de Janja ocorre em um contexto estratégico, à medida que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva busca atrair o eleitorado evangélico, que se mostrou amplamente alinhado ao bolsonarismo desde 2018. Segundo a pesquisa mais recente do Ipespe, a desaprovação em relação à gestão de Lula ainda é significativa entre os evangélicos, com 61% expressando descontentamento. No entanto, a diferença entre desaprovação e aprovação caiu para 26 pontos percentuais, a menor já registrada no ano, indicando uma leve tendência de mudança.
Conexões com a comunidade
A primeira-dama descreveu o encontro em Caruaru como “potente” e expressou sua gratidão pela troca de experiências com as mulheres presentes. Ela ressaltou: “Momentos como esse, de escuta e de compartilhamento de vivências, encorajam cada uma de nós para seguir nossos caminhos de cabeça erguida”. Essa ênfase em escutar e dialogar reflete uma tentativa de Janja em se conectar de maneira autêntica com a comunidade evangélica.
Este encontro ocorreu cerca de duas semanas após Lula fazer um aceno semelhante ao público evangélico. Durante uma entrevista ao podcast “Papo de Crente”, o presidente discutiu sua abordagem cautelosa em relação a cultos religiosos, dizendo que evita usar esses espaços como palanques eleitorais. “Faço para o religioso onde ele estiver, mas não me faça utilizar uma igreja como palanque”, afirmou Lula, reforçando a importância de respeitar a espiritualidade.
Engajamento contínuo
Na mesma linha, Janja tem participado ativamente de eventos voltados à comunidade evangélica, incluindo um culto na The Abyssinian Baptist Church, em Harlem, Nova York, onde foi tratada como convidada especial. Durante esses encontros, ela tem enfatizado a necessidade de pautar as políticas públicas em torno das experiências de mulheres, principalmente aquelas em situações de vulnerabilidade, como as periféricas e negras.
Além disso, Janja já comentou estar passando por um momento de “revelação” ao participar dessas interações, sentindo-se acolhida nas igrejas evangélicas e valorizando a oportunidade de cuidar das necessidades daquelas mulheres. “Esses diálogos são diálogos de paz. Eu garanto a vocês que não vou xingar o marido de ninguém aqui, que não é esse o meu papel”, disse Janja em uma de suas falas, enfatizando a busca por um espaço de diálogo pacífico e construtivo.
Aceitação e desafios
Embora a aproximação de Janja com as mulheres evangélicas tenha sido recebida com empolgação, a trajetória não tem sido isenta de desafios. Dados de pesquisas recentes indicam que, enquanto uma parte da população vê as ações da primeira-dama como um ponto positivo, uma fração significativa acredita que suas intervenções complicam a imagem do governo. A pesquisa Datafolha revelou que 36% dos entrevistados consideraram que as ações de Janja atrapalham a gestão, em contraste com 14% que acham o contrário.
Essa dinâmica complexa demonstra a resiliente busca de Janja por estabelecer um relacionamento sólido com um segmento que tem uma influência política significativa no Brasil. Com seus esforços contínuos, a primeira-dama visa não apenas quebrar barreiras e construir pontes, mas também garantir que as políticas de seu governo reflitam as necessidades e desejos de todas as mulheres, especialmente das mais vulneráveis.
Ainda que os desafios persistam, a conexão que Janja busca com as mulheres evangélicas é um claro indicativo da direção que seu papel como primeira-dama está tomando e como ela pretende influenciar as políticas sociais no país. O trabalho de ouvir e integrar diferentes vozes na construção de uma sociedade mais justa e equitativa continua sendo uma prioridade em sua agenda.