O alerta sobre as crises dramáticas que afetam o mundo hoje foi tema central do discurso de dom Fernando Chica Arellano, observador permanente da Santa Sé junto às Organizações e Agências das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. Na última terça-feira, durante um seminário na sede do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Ifad), ele enfatizou a urgência de um novo modelo econômico, norteado pela solidariedade e pela sustentabilidade. Em um mundo onde a fome afeta milhões e as condições de vida se deterioram, a mensagem é clara: precisamos repensar nossas prioridades.
Dados alarmantes sobre a fome no mundo
O panorama apresentado por Chica Arellano é preocupante. De acordo com suas declarações, estima-se que, em 2024, 673 milhões de pessoas já estivessem sofrendo de fome, e 2,6 bilhões sem acesso a uma alimentação saudável, particularmente em países de baixa renda. A inflação, que corroeu o poder de compra das famílias, tornou a alimentação um item cada vez mais caro, tanto que representa mais da metade das despesas de muitos lares.
Esses números, que refletem a realidade amarga e alarmante, foram apresentados durante o seminário intitulado “A economia a serviço do desenvolvimento integral. Agindo juntos para não deixar ninguém para trás”, ocorrido em Roma. O evento reuniu diplomatas, representantes de ONGs e da sociedade civil, todos preocupados com o avanço da crise alimentar global.
A combinação letal das crises
Dom Fernando Chica Arellano destacou que as crises que o mundo enfrenta são múltiplas: guerras, eventos climáticos extremos, choques econômicos e volatilidade política. Ele descreveu essa combinação como “letal” para os sistemas alimentares globais, que já enfrentam desafios sérios. O prelado chamou a atenção para a interconexão dessas crises, que se intensificam mutuamente, levando a um cenário ainda mais devastador.
Proteger a criação: um chamado à ação
Citando Leão XIV, o observador da Santa Sé fez um apelo à proteção dos recursos naturais. Ele defendeu um modelo de desenvolvimento que priorize a sustentabilidade e a solidariedade, dominado pela lógica da conservação, e que, em última análise, busca proteger a criação. O desenvolvimento sustentável, segundo ele, não é apenas uma necessidade, mas uma responsabilidade moral de todos os agentes sociais, desde governos até indivíduos.
Um modelo econômico insustentável
Durante sua fala, dom Chica Arellano também criticou a ideia que prevalece há décadas de que a felicidade está atrelada ao aumento do PIB e à acumulação de bens. “É preciso superar a mentalidade de que a economia deve ser guiada pela lei do lucro a todo custo. Precisamos questionar nosso modelo de desenvolvimento atual, que já demonstrou sua total insustentabilidade”, afirmou. Essa reflexão é fundamental, segundo ele, para criar uma economia que sirva ao verdadeiro desenvolvimento integral, em vez de perpetuar desigualdades e injustiças sociais.
O papel das organizações e da sociedade civil
O discurso inspirou um amplo debate sobre o papel das instituições, organizações não governamentais (ONGs) e da própria sociedade civil na promoção de mudanças e na construção de um futuro mais justo e sustentável. A participação ativa de todos, segundo o prelado, é essencial para reverter o quadro de crises e avançar em direção a um modelo mais humano e solidário.
O seminário e os dados apresentados evidenciam não apenas a urgência de ações concretas, mas também a importância de unir esforços entre diferentes setores da sociedade. Há uma necessidade crescente de dialogar sobre as prioridades globais, garantir o direito à alimentação e promover um desenvolvimento que respeite o meio ambiente e a dignidade humana.
Em um mundo cada vez mais interconectado, a esperança é que vozes como a de dom Fernando Chica Arellano inspirem a mudança e reorientem o debate sobre a economia e o desenvolvimento integral. A sociedade tem um papel crucial a desempenhar, e a hora de agir é agora.
O futuro depende de nossas escolhas e do compromisso de cada um em construir um mundo mais justo e sustentável.