Brasil, 30 de setembro de 2025
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Documentos revelam comércio clandestino de escravizados no RJ

Pesquisadores descobrem documentos sobre a venda de escravizados em Barra de Guaratiba, Rio de Janeiro, após a proibição do tráfico em 1830.

Pesquisadores na Zona Oeste do Rio de Janeiro, especificamente em Barra de Guaratiba, recententemente fizeram uma surpreendente descoberta: documentos que revelam a compra e venda de pessoas escravizadas, mesmo após a proibição oficial do comércio de seres humanos em 1830. Este achado histórico lança luz sobre uma parte sombria da nossa história, onde ainda existem vestígios de um passado repleto de opressão e resistência.

A descoberta em Barra de Guaratiba

Os documentos foram encontrados em um arquivo histórico e retratam a realidade brutal de escravizados forçados a trabalhar nas lavouras da região. Historicamente, Barra de Guaratiba abrigou um dos maiores portos clandestinos de escravizados do Brasil. Entre as figuras centrais dessa narrativa está Joaquim José de Souza Breves, conhecido não apenas como um dos principais cafeicultores do país, mas também como um ativo traficante de escravizados.

De acordo com o pesquisador André Luiz Mansur, as terras de Barra de Guaratiba pertenciam à família Souza Breves durante a abolição do tráfico, transformando-se em um ponto de desembarque clandestino onde milhares de vidas foram marcadas pelo sofrimento.

As ruínas da Casa do Porto

Flávio Moraes, sociólogo que estuda a região há mais de duas décadas, destaca a importância da Casa do Porto – uma construção que ainda possui algumas ruínas e que servira como um dos poucos vestígios da operação do tráfico de escravizados na área. Flávio publicou recentemente um estudo sobre o local, que aparece em mapas de navegação do período, especialmente em documentos ingleses que monitoravam o tráfico negreiro.

A Casa do Porto tinha diversas funções, incluindo quartos e porões que atuavam como senzalas onde os recém-chegados eram forçados a ficar, além de espaço destinado a aqueles que chegavam doentes. Flávio estima que cerca de meio milhão de pessoas possam ter passado pelo local em um período que abrange cinco décadas de tráfico, considerando as apreensões realizadas na região.

Estimativas e relatos históricos

Flávio Moraes calcula que, entre a proibição formal do tráfico em 1830 até a abolição total da escravidão em 1888, mais de meio milhão de escravizados possam ter desembarcado na Restinga da Marambaia. Em seu estudo, ele afirma que em um ano específico, quando houve uma fiscalização mais rigorosa, o número de apreensões de negros atingiu patamares alarmantes, corroborando a estimativa de meio milhão de vítimas.

A primeira viagem registrada para Barra de Guaratiba data de 1716, quando uma embarcação trouxe 288 escravizados. Contudo, a fiscalização mais rigorosa a partir de 1850 resultou na interrupção dos registros, deixando lacunas na história. Entre os documentos análises, um registro de 1837 sobre um navio da Angola revela que 50 pessoas morreram durante a travessia do Atlântico, enquanto algumas, como um menino de 9 anos e três meninas com idades variadas, sobrevivem apenas em relatos. O que aconteceu com essas crianças após a chegada, no entanto, permanece um mistério.

O futuro da pesquisa

O sociólogo Flávio Moraes está empenhado em garantir que o local seja considerado para tombamento e estudo oficial. Ele protocolou pedidos junto à prefeitura do Rio e ao governo federal para que a Casa do Porto e sua história sejam preservadas. A esperança é que essa iniciativa transforme a região em um importante ponto de interesse turístico e educacional, permitindo que as futuras gerações compreendam e reflitam sobre os horrores do passado da escravidão no Brasil.

A descoberta em Barra de Guaratiba não apenas reafirma a necessidade de manter viva a memória dos que sofreram, mas também sublinha o papel fundamental da pesquisa histórica na promoção de uma sociedade consciente de suas raízes e disposta a aprender com a história. Os pesquisadores agora enfrentam a tarefa crucial de desenterrar mais evidências e contar histórias não apenas de dor, mas também de resistência e luta pela liberdade.

Com um olhar voltado para o futuro, espera-se que essa pesquisa possa eventualmente gerar um resgate histórico significativo que ajude a curar as feridas deixadas pela escravidão e promova uma maior compreensão sobre o passado entre todos os brasileiros.

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