Um estudo do Banco Central (BC) identificou um aumento significativo do endividamento entre trabalhadores que contrataram o novo consignado privado, conhecido como consignado CLT, nos primeiros meses de concessões de crédito. A análise sugere que essa modalidade tem papel limitado na substituição de dívidas anteriores dessa parcela de trabalhadores.
Dados do aumento do endividamento e impacto do novo consignado
Segundo o relatório do BC, houve um aumento médio de 58% no endividamento no mês da contratação, passando de R$ 18,4 bilhões em fevereiro para R$ 33,1 bilhões em julho, um crescimento de R$ 14,7 bilhões. Apesar disso, o valor total do novo consignado na modalidade CLT foi de R$ 13,6 bilhões no período, indicando que o aumento do endividamento total chegou a superar esse montante, o que sugere que os trabalhadores também buscaram outras modalidades de crédito.
Comportamento dos tomadores e perfil do endividamento
O comportamento dos tomadores indica que o crescimento no endividamento não se concentra exclusivamente na substituição de dívidas antigas. Para o BC, isso revela que pessoas estão recorrendo a diferentes tipos de crédito, além do consignado CLT, mesmo diante de taxas de juros mais altas em modalidades alternativas, como cartão de crédito, cheque especial e crédito pessoal não consignado.
O diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, afirmou que “ainda é cedo para ter uma conclusão definitiva” sobre os efeitos do novo consignado. Ele destacou que o perfil dos trabalhadores que recorrem ao crédito inclui menores níveis de instrução e renda, menos tempo de emprego e atuação em empresas de menor porte.
Dados sobre concessões e taxas de juros
De março a julho, cerca de 3 milhões de pessoas contrataram algum tipo de crédito consignado privado, sendo 2,3 milhões na nova modalidade. As operações totalizaram R$ 21,9 bilhões, com R$ 13,6 bilhões referentes ao consignado CLT. A taxa média do novo consignado atingiu 58% ao ano (3,9% ao mês) até julho, enquanto o crédito anterior tinha uma taxa de aproximadamente 36,2% ao ano (2,6% ao mês), e o crédito pessoal não consignado apresentava uma taxa média de 106% ao ano (6,2% ao mês).
Recomendações e avaliação do BC
O Banco Central alertou que os resultados observados representam apenas o momento inicial e que é preciso cautela na interpretação dos efeitos do programa. Guillen explicou que a oferta do novo crédito pode ter contribuído para aumentar o endividamento, especialmente se for mais acessível e mais barato do que as alternativas anteriores, ou se os próprios tomadores já estivessem inclinados a ampliar suas dívidas.
O BC destacou ainda que o impacto mais amplo na saúde financeira das famílias só poderá ser avaliado com o passar do tempo, após uma análise contínua das operações e perfis dos consumidores. Apesar do aumento das concessões, o órgão reforçou a necessidade de monitoramento constante para evitar excessos e proteger os tomadores.
Opiniões do Ministério do Trabalho e MTE
O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), procurado pelo Metropoles, afirmou que não possui acesso à pesquisa do BC para comentar detalhadamente o estudo. A pasta ressaltou que, desde o início da nova modalidade, 5,7 milhões de trabalhadores trocaram dívidas mais caras, como empréstimos pessoais com juros de até 11% ao mês, por operações com juros médios de 3,3% ao mês, facilitando o acesso ao crédito e evitando o endividamento com taxas elevadas.
O programa do Governo Federal visa facilitar o crédito a trabalhadores do setor privado, incluindo celetistas, domésticos, rurais, empregados de MEI e diretores não empregados com FGTS. A expectativa é que, nos próximos quatro anos, cerca de 25 milhões de pessoas sejam incluídas no consignado privado.
Perspectivas futuras
Apesar do crescimento recente, o BC recomenda cautela na análise dos resultados, ressaltando que ainda não é possível determinar o impacto de longo prazo na capacidade de pagamento dos consumidores. A entidade continuará monitorando a evolução do endividamento e o perfil dos tomadores, buscando garantir a sustentabilidade financeira das famílias brasileiras.