A irmã Joana Puntel, uma destacada figura da comunicação vital dentro da Igreja, completou 80 anos e, ao invés de receber presentes, presenteou a todos com o lançamento de seu mais novo livro, intitulado “Pastoral Digital: uma mudança paradigmática”. A obra será lançada no Mutirão Brasileiro de Comunicação (MUTICOM), programado para acontecer em Manaus entre os dias 25 e 28 de setembro de 2025, onde a religiosa atuará como assessora na discussão sobre educomunicação e formação cidadã.
A importância do MUTICOM e da eco-comunicação
No contexto do MUTICOM, a irmã Joana ressaltou a relevância de a comunicação dedicar-se a temas como a ecologia integral. Ela destacou como a encíclica Laudato Si, do Papa Francisco, influenciou significativamente a consciência global sobre a interconexão de todos os seres e processos da vida. “A comunicação deve se engajar nessa temática, inteiramente”, afirmou. Trata-se, segundo ela, de uma necessidade de não apenas repetir mensagens, mas de verificar ações que realmente façam a diferença.
A irmã Joana, que também se dedicará a discutir sobre a educomunicação para a formação cidadã, enfatiza que a educação e a comunicação são interdependentes. “O ser humano deve ser formado para isso”, disse, destacando a importância dos valores como honestidade, fraternidade e respeito, que devem acompanhar a educação ao longo da vida. “É uma relação direta entre o que somos e como tratamos o mundo ao nosso redor”, complementou.
Entrar na cultura digital
A nova obra da irmã Joana apresenta a pastoral digital dentro de um novo paradigma, não como algo separado, mas sim como uma extensão da pastoral da comunicação já existente. Ela explica que a pastoral digital é relevante porque “não se trata apenas de usar as ferramentas digitais, e sim de entender que a cultura digital é parte da nossa vivência diária”. Para ela, a situação atual é o que muitos chamam de ‘onlife’, onde as experiências online e offline estão entrelaçadas de uma forma que não se pode mais distinguir.
Para a religiosa, essas discussões sobre novos paradigmas de comunicação são ainda mais relevantes no contexto atual, onde se observa um avanço significativo da tecnologia e, consequentemente, da Inteligência Artificial. A irmã Joana destaca a necessidade de escutar os sinais dos tempos, um conceito enfatizado pelo Papa Francisco, que convida a uma reflexão sobre os desafios e oportunidades que essas novas tecnologias trazem.
O conceito ‘onlife’ e a experiência digital
A irmã Joana utiliza a metáfora dos manguezais, onde a água doce e a água salgada se misturam, para explicar que estamos sempre em um estado ‘onlife’. “Nós não conseguimos simplesmente desligar o digital de nossas vidas. Ele está presente em nossos pensamentos, interações sociais e decisões diárias”, explica. Esse fenômeno é especialmente visível entre os jovens, que muitas vezes sentem “ansiedade de estar por dentro” das novidades e tendências das redes sociais, um fenômeno conhecido como síndrome de FOMO (fear of missing out).
Magistério e ética na era da IA
Com a crescente preocupação sobre a influência da Inteligência Artificial, a irmã Joana ressalta a necessidade de que a Igreja esteja atenta a essa nova realidade. “É fundamental conhecer a posição do Magistério da Igreja sobre a Inteligência Artificial”, enfatiza, citando a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz de 2024. Neste documento, o Papa salienta a necessidade de que a dignidade humana seja defendida e respeitada em todos os avanços tecnológicos.
A irmã Joana também aponta que a Igreja deve aproveitar os benefícios da IA em diversas áreas, mas sempre garantindo que a tecnologia esteja a serviço da pessoa humana. “Devemos ser críticos em relação ao papel que as big techs desempenham nesse cenário”, afirma, lembrando que a ética deve sempre guiar a programação e utilização de algoritmos.
Uma proposta para a pastoral digital
Na sua nova obra, a irmã Joana apresenta três pontos essenciais que devem ser observados na Pastoral Digital: a atenção ao contexto atual, a consideração dos sinais dos tempos e a compreensão das novas dinâmicas de comunicação. Os verbos que ela destaca para orientar a ação pastoral incluem: sair, anunciar, habitar, educar e transfigurar. “Precisamos dar um rosto cristão à cultura digital e formar comunidades conscientes online”, conclui.
Com o foco em criar comunidades digitais inclusivas, a irmã Joana enfatiza a importância de envolver até mesmo os mais idosos nesse processo. “Estamos vivendo um momento onde a união se faz necessária, e a tecnologia pode ser uma aliada nessa jornada”, finaliza.