A Arquidiocese de Seul está em festa. A Santa Sé concedeu o “Nihil obstat”, que significa “nenhum obstáculo”, para o processo de beatificação do padre Leo Bang Yu-ryong, um ícone da vida religiosa coreana e considerado um “ancestral da fé”. Nascido em 6 de março de 1900, em uma época de intensa perseguição religiosa na Coreia, padre Bang trouxe um novo paradigma à experiência católica no país, enfatizando a importância da adaptação cultural na disseminação da fé.
Fases do processo de beatificação
O bispo auxiliar de Seul, Dom Job Koo Yoo-bi, anunciou que a Arquidiocese está se preparando para iniciar a fase diocesana do processo de beatificação. Isso envolve a coleta de dados e testemunhos que evidenciem as virtudes heroicas e a reputação de santidade do sacerdote, que um dia poderá ser declarado “Servo de Deus”. Essa primeira etapa é crucial, pois inclui a análise minuciosa de sua vida e missão.
A trajetória de Leo Bang Yu-ryong
Desde adolescente, padre Bang manifestou o desejo de se dedicar à vida religiosa. Ele percebeu que, para que a fé católica se enraizasse na Coreia, era fundamental a criação de uma congregação que refletisse a cultura local. Em 21 de abril de 1946, após anos de reflexão e trabalho pastoral, ele fundou a primeira congregação religiosa feminina coreana, em Kaesong, ao lado de suas cofundadoras, Irmãs Yun Byeong-Hyeon e Hong Eun-Sun.
Esse marco foi especialmente significativo, caindo no primeiro domingo de Páscoa após a libertação da Coreia do domínio japonês. A nova congregação, chamada “Irmãs dos Bem-Aventurados Mártires Coreanos”, tinha como objetivo propagar o Evangelho em um contexto que respeitasse a cultura e identidade coreanas. Bang enfatizava que os mártires coreanos precisavam ser reconhecidos como intercessores e modelos para a nova geração de católicos.
A contribuição pastoral de Bang
Durante seu ministério, padre Bang revoluciona a prática religiosa ao abolir a separação entre meninos e meninas na igreja, além de introduzir um coral juvenil, estimulando a participação dos jovens nas atividades paroquiais. Seu amor pelos aspirantes a monges e sua dedicação em guiá-los espiritualmente foram fundamentais na formação de novas vocações religiosas no país.
A fundação da Sociedade dos Bem-Aventurados Mártires Coreanos em 1951 e da Congregação dos Bem-Aventurados Mártires Coreanos em 1953 concretiza o desejo do padre de estabelecer ordens religiosas autóctones, tanto masculinas quanto femininas, que pudessem perpetuar o testemunho dos mártires que enfrentaram dificuldades por sua fé.
Legado e reconhecimento
A espiritualidade de padre Bang não se limitava apenas à vida monástica, mas se estendia à vida secular, refletindo a intenção de integrar o aspecto religioso na cotidianidade dos fiéis. Em suas palavras, a prática da fé envolvia meditação e uma entrega total aos outros, princípios que continuam a inspirar as gerações atuais.
Padre Bang Yu-ryong faleceu em 24 de janeiro de 1986, mas deixou uma herança espiritual que perdura na vida religiosa coreana. Com o início de seu processo de beatificação, a Arquidiocese de Seul espera não apenas honrar sua memória, mas também inspirar novas vocações e reafirmar a identidade católica na Coreia.
Outras causas de beatificação em andamento
Além do processo do padre Bang, a Arquidiocese de Seul está acompanhando a beatificação de outras importantes figuras católicas, como o bispo Barthelemy Bruguière, o primeiro vigário apostólico da Coreia, e do cardeal Stephen Kim Sou-hwan, arcebispo de Seul entre 1968 e 1998.
Essas iniciativas refletem um renascimento na prática de reconhecimento e honra aos pioneiros da fé católica na Coreia, celebrando suas contribuições para a Igreja e a sociedade.
A guarda da memória e da história da Igreja na Coreia é essencial para a formação de uma comunidade de fé sólida e enraizada nos princípios do amor, da esperança e da harmonia, pilares que padre Bang Yu-ryong tanto promoveu em sua vida e missão.