A semana começa sob grande expectativa com a possibilidade de uma reunião entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, após meses de tensão nas relações entre Brasil e Estados Unidos. O sinal verde para essa conversa foi dado durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, onde ambos os mandatários decidiram romper um período de sanções que afetou produtos e cidadãos brasileiros.
Possíveis formatos da reunião
Para os assessores de Lula, o ideal seria que o primeiro contato ocorresse por meio de uma videoconferência ou conversa telefônica ainda nesta semana. Trump, durante seu discurso na ONU, deixou a entender que esse primeiro contato poderia ocorrer rapidamente. Entretanto, já existem discussões sobre a possibilidade dos dois se encontrarem pessoalmente em um terceiro país, em um ambiente mais neutro. Duas datas estão nas cogitações: uma reunião na Itália, programada para o dia 13 de outubro, durante um evento da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), ou na Malásia, durante a cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), que ocorrerá no dia 25 de outubro.
Quebra de gelo e tensões internas
A expectativa de um diálogo entre Lula e Trump foi vista por alguns interlocutores do governo brasileiro como uma derrota para o deputado Eduardo Bolsonaro, que estava nos Estados Unidos há meses pedindo sanções contra autoridades brasileiras. Essa pressão é exemplificada por sanções direcionadas principalmente ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, que foi crucial para a condenação de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.
Além disso, a abordagem do governo americano, representado pelo secretário de Estado Marco Rubio e outros membros, tentava deslegitimar Moraes em redes sociais, enquanto também reagia aos acontecimentos políticos no Brasil. Recentemente, a Casa Branca impôs novas sanções, incluindo ações contra a esposa de Moraes, mas a conversa breve entre Lula e Trump na última terça-feira parece ter esfriado essas movimentações.
Interesses estratégicos e ações do Brasil
No entanto, o governo brasileiro se prepara para defender sua posição, afirmando que não adotou nem adotará políticas antiamericanas. Na conversa, Lula deve enfatizar que a democracia no Brasil passou por um momento de risco e que o Judiciário brasileiro sempre agiu dentro dos limites legais, garantindo os direitos de defesa. Contudo, os EUA têm interesses que vão além das relações bilaterais, incluindo acesso a recursos minerais estratégicos e receios de que regulações locais possam afetar grandes empresas de tecnologia americanas.
Os membros da equipe de Lula destacam que as discussões devem ser amplas, mas não comprometerão a soberania do Brasil, especialmente no que diz respeito a questões relacionadas à situação de Bolsonaro, que está longe de ser um tema negociável.
Sanções e investigações em curso
As tensões nas relações bilaterais não são novas. Antes mesmo da condenação de Bolsonaro, os Estados Unidos já haviam aplicado tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e iniciado sanções individuais. As novas obrigações sob a Lei Magnitsky têm efeitos direcionados a indivíduos acusados de corrupção ou violações de direitos humanos. Também foi aberto um processo investigativo sobre práticas desleais do Brasil, com foco em questões como o desmatamento, corrupção e até mesmo a regulação do sistema de pagamentos Pix, que aparentemente prejudica interesses americanos.
Possíveis retaliações brasileiras
Com a recente aprovação da Lei da Reciprocidade, o Brasil poderá retaliar as sanções americanas, embora ainda não se tenha decidido sobre o que fazer. Aumentar tarifas sobre produtos americanos parece fora de cogitação, dado o impacto negativo que isso teria na indústria local. No entanto, ações relacionadas à propriedade intelectual estão sendo discutidas, como a possibilidade de revogar patentes de medicamentos ou criar impostos sobre conteúdos de entretenimento baseados nos Estados Unidos.
A expectativa para os próximos dias é alta, com ambos os países se preparando para a primeira conversa em muitos meses. O tom dessa comunicação poderá influenciar a dinâmica das relações Brasil-EUA nos próximos anos, refletindo o tanto que está em jogo politicamente e economicamente para ambas as nações.