Brasil, 29 de setembro de 2025
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A revolução em Cuba quebra promessas: fome e pobreza em alta

Em Cuba, a pobreza extrema aumenta, refletindo a crise econômica que afeta as famílias e pede atenção urgente.

Em um dia quente de agosto, pouco antes das 17h, Marta Pérez foi vista pedindo dinheiro sob o sol escaldante do Bulevar de San Rafael, em Havana. Com sua pele enrugada, vestido listrado, cabelo curto e unhas muito longas, a mulher de 70 anos parecia uma aparição nas ruas da capital cubana.

Marta empurrava um carrinho de bebê onde estava sua neta de um ano, Cristi (ou Crista, como Marta não consegue lembrar exatamente). A pequena, com os olhos curiosos, acompanha a avó em sua tarefa desagradável de tentar arrecadar um, dois, talvez cinco pesos cubanos. “Mesmo que seja apenas um pouco de arroz e feijão preto”, Marta suspira. “Porque não tenho dinheiro para comprar carne.”

Marta vive com sua filha, uma auxiliar pedagógica grávida, seus três netos e seu esposo de 79 anos, que recebe uma pensão. No entanto, “quase não é o suficiente para comprar mantimentos”. Apesar de ter direito à sua própria pensão, suas contribuições foram perdidas ao longo dos anos, tornando seu trabalho à vida inteira em vão. O jeito é fazer bicos; às vezes é chamada pelos vizinhos: “Vem lavar minha roupa, eu te pago”, ou, às vezes, ela faz limpeza em casas. Contudo, o que ganha não é suficiente — assim como acontece com a maioria dos cubanos atualmente.


Marta Pérez (70 anos) vive no Bulevar de San Rafael, Cuba. Vive com sua filha, uma auxiliar pedagógica grávida, seus três netos e seu marido de 79 anos, que recebe uma pensão.

Para garantir um mês de alimentação digna, Marta precisaria de aproximadamente 41.735 pesos cubanos (quase 100 dólares no mercado informal), o que equivale a 20 salários mínimos mensais — ou dois anos de pensões. Esses dados foram obtidos pelo Programa de Monitoramento Alimentar (FMP), que se dedica a rastrear e relatar a insegurança alimentar em Cuba.

A situação em Cuba se agrava a cada dia, com apagões que podem durar até 18 horas, dias inteiros sem água, inflação de 10% e os preços dos alimentos que continuam a subir, enquanto o dólar — que chega a mais de 400 pesos no mercado informal — desvaloriza ainda mais a moeda local.

Organizações como a UNICEF denunciam que um em cada dez crianças vive em condições de “pobreza alimentar severa”. O Ministério da Saúde Pública do país também relatou que, cada vez mais, os cubanos se alimentam apenas uma vez por dia. Estudos recentes do Observatório Cubano de Direitos Humanos (OCDH) revelam que sete em cada dez cubanos já pularam refeições devido a falta de dinheiro ou escassez de alimentos, enquanto cerca de 89% da população vive em extrema pobreza.

Apesar disso, a narrativa oficial evita o termo “pobreza”, assim como a crescente desigualdade que o governo cubano prometeu erradicar desde a Revolução de 1959. A socióloga Elaine Acosta González, do Instituto de Pesquisa Cubano da Florida International University (FIU), observa que “a realidade contradiz a retórica da Revolução, que prometia uma vida melhor, com igualdade e bem-estar para todos”.

O descontentamento popular cresceu tanto que, em julho passado, a Ministra do Trabalho e Segurança Social, Marta Elena Feitó Cabrera, renunciou dois dias após afirmar que não havia mendigos no país, apesar das evidências. O Presidente Miguel Díaz-Canel reconheceu que o aumento da pobreza é uma “expressão concreta das desigualdades sociais acumuladas”.

A pobreza em Cuba e a sua construção ao longo do tempo

A falta de moradia é outra razão pela qual muitos cubanos acabaram vivendo nas ruas. Residentes da Ruína do Edifício Riomar, um legado do boom imobiliário dos anos 1950, têm em comum a origem no leste da ilha e a falta de um lar.


A Ruína do Edifício Riomar em Havana, ocupada por famílias do Leste de Cuba, em 24 de julho de 2025.

Yuneily Villalón, de 44 anos, agora ocupa um espaço em um complexo de 11 andares que já foi um marco arquitetônico da cidade. Hoje, Villalón vive em um apartamento sem janelas ou portas, decorado com móveis dados por vizinhos que também não têm onde morar.

Ela vive com o que pode e afirma que, às vezes, tem água corrente, embora também passe dias sem. Atualmente, Villalón recebe 1.500 pesos por mês (menos de 5 dólares) como empregada em um convento, esperando que seus filhos a acompanhem no futuro.

De acordo com dados de 2012, havia cerca de 1.108 pessoas com “comportamentos errantes” em Cuba, mas o número real deve ser bem maior. A crise de desemprego, agravada pela pandemia de COVID-19 e pelas políticas econômicas falhas, só fez piorar a situação.

Ricardo Torres, economista, acredita que as recentes mudanças estruturais não têm acompanhado um crescimento econômico sólido, resultando em declínio econômico e aumento da desigualdade. A média salarial em Cuba foi recentemente elevada para 6.649 pesos (aproximadamente 15 dólares), mas isso ainda é insuficiente para a maioria das famílias.

“É preocupante que esse aumento não seja suficiente para recuperar o poder de compra que foi perdido nos últimos anos,” conclui Torres.

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