Nos últimos meses, os Estados Unidos têm vivido uma verdadeira onda de eventos traumáticos, incluindo tiroteios em massa, debates acalorados e crises globais, o que leva especialistas a apontar um fenômeno de “trauma nacional”.
O que é a trauma coletiva e como ela afeta os americanos
De acordo com a terapeuta Saba Lurie, proprietária da Take Root Therapy, essa condição ocorre quando uma sequência de eventos negativos impacta toda uma sociedade, gerando ansiedade, insegurança e uma sensação de vulnerabilidade generalizada. “A combinação de notícias 24 horas por dia, algoritmos de redes sociais e crises globais cria uma tempestade perfeita para o trauma secundário em larga escala”, explica.
Por que nosso corpo reage ao trauma na tela da mesma forma que ao vivenciado
Quando somos expostos a ameaças, mesmo que apenas na mídia, nosso sistema nervoso reage como se estivéssemos realmente em perigo. A liberação de hormônios como cortisol e adrenalina provoca aumento no ritmo cardíaco, pressão sanguínea elevada e uma preparação do corpo para lutar ou fugir, explica Lurie.
Ela acrescenta que o cérebro não consegue distinguir se a ameaça ocorre com a nossa presença ou se estamos apenas assistindo. “Por isso, nossa resposta fisiológica é a mesma, independentemente da origem da ameaça”, afirma.
O impacto físico e emocional do excesso de notícias
Relacionamentos, criatividade e produtividade podem ser afetados quando o corpo permanece em estado de alerta constante. Sintomas como fadiga, dores de cabeça, tensão muscular, ansiedade e irritabilidade são comuns, afirma Jenny Shields, psicóloga clínica. Se esses sinais persistirem, podem evoluir para ansiedade, depressão, pensamentos intrusivos e transtorno de estresse pós-traumático.
Segundo estudos, o excesso de exposição às notícias também altera nossa percepção do mundo, tornando-o menos previsível, menos confiável e mais perigoso. “As pessoas passam a se sentir menos seguras e confiantes na sociedade”, destaca Shields.
Como recuperar o controle diante do excesso de trauma
Se por um lado não podemos impedir que as tragédias aconteçam, há estratégias para diminuir o impacto emocional. Técnicas de respiração, atenção plena e conexão social ajudam a regular o sistema nervoso e a manter a calma. “Exercícios simples como a técnica 5-4-3-2-1, uma caminhada ou falar com alguém de confiança podem fazer a diferença”, reforça Lurie.
Além disso, estabelecer limites no consumo de notícias e escolher momentos específicos para se informar são passos importantes para preservar o bem-estar mental. “O equilíbrio entre envolvimento e autocuidado é essencial neste momento”, alerta a especialista.
Olhar para o presente e reforçar o apoio social
Practicar atividades que reforcem o sentimento de segurança, como passar tempo com entes queridos, dedicando momentos à rotina diária, ou realizar uma oração ou reflexão, pode ajudar o sistema nervoso a se estabilizar, garante Shields. O apoio social é uma ferramenta poderosa na redução da ansiedade derivada da exposição constante a um mundo de crises.
Por fim, a especialista recomenda que cada pessoa reconheça os próprios limites e priorize ações que promovam sensação de controle e esperança. Assim, é possível atravessar esse momento turbulento com mais equilíbrio emocional.
A situação de trauma coletivo nos Estados Unidos evidencia a importância do cuidado com a saúde mental na era da informação. Afinal, compreender a nossa reação ao que vemos e ouvimos é o primeiro passo para preservar nossa estabilidade em meio ao caos.