A safra 2025/2026 no Brasil deverá bater novo recorde, chegando a 350 milhões de toneladas de grãos, impulsionada por previsões favoráveis e avanços tecnológicos, como o uso de drones e inteligência artificial para identificar pragas. No entanto, as margens de lucro dos produtores têm se confundido com o gosto amargo de custos elevados e juros altos, mesmo com subsídios do governo.
Safra histórica e previsões otimistas
De acordo com a previsão inicial da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção de grãos deve subir 1% em relação à temporada anterior, com as condições meteorológicas favoráveis contribuindo para o novo recorde. A estimativa contempla soja, milho e outros cultivos, consolidando o Brasil como um dos maiores celeiros do mundo. Segundo o governo, a produção atingirá 350 milhões de toneladas, reforçando o papel do agronegócio brasileiro na economia nacional.
Desafios financeiros e margens em queda
No entanto, as dificuldades econômicas se intensificam. Com cotações em baixa, insumos caros — como fertilizantes, que tiveram aumento de 20%, e defensivos, em alta de 14% — e juros elevados, as margens de lucratividade vêm encolhendo desde a safra 2023/2024. Segundo o banco holandês Rabobank, a margem operacional média do produtor de soja deve cair de 38% em 2025 para 24% em 2026.
Produtores enfrentam duros desafios
Marion Kompier, sócia do Grupo Kompier, que administra fazendas em Goiás, explica a preocupação dos empresários rurais: “Vamos ver se conseguimos pagar as contas, se sobra alguma coisa e se teremos rentabilidade”. A estratégia de muitos, segundo ela, tem sido reduzir custos e adiar investimentos, como a instalação de sistemas de irrigação.
Impactos econômicos e gestão de crise
Além do cenário de custos, o setor enfrenta alto endividamento. Dados da Serasa Experian apontam aumento na inadimplência e nas recuperações judiciais de produtores rurais, refletindo os efeitos do ciclo de baixa nos preços de commodities e elevação dos juros. No primeiro trimestre, 7,9% dos quase 10 milhões de produtores enfrentaram dívidas superiores a 180 dias, e pedidos de recuperação subiram 21,5% em relação ao final de 2023.
Tendências e perspectivas
Especialistas alertam que, sem sinais de melhora nos preços internacionais, as margens continuarão pressionadas até 2027, quando o quadro deve se reverter, segundo o Rabobank. Para o economista Sérgio Vale, é fundamental que os produtores façam “o básico”: controle de custos, venda de ativos e alongamento de dívidas, em um momento em que o setor ainda lida com o impacto de uma safra menor, agravado pela seca e pelo conflito no leste europeu.
Repercussões regionais e clima imprevisível
O acúmulo de dívidas e dificuldades financeiras também afeta as economias locais, principalmente em regiões dependentes do agronegócio, conforme explica Renato Conchon, da CNA. Além disso, o clima permanece uma variável de risco, com previsão de La Niña fraca, porém com possíveis episódios de seca no Sul do país entre dezembro e janeiro, segundo o meteorologista Celso Oliveira.
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