A vida da professora de Mogi das Cruzes (SP), Márcia Fonseca, de 45 anos, foi marcada pela dor intensa causada pela neuropatia do trigêmeo, uma condição rara e considerada uma das mais dolorosas do mundo. Após enfrentar anos de sofrimento e uma longa jornada em busca de tratamento, Márcia agora celebra um novo capítulo: voltar a dirigir, algo que parecia impensável devido às suas crises constantes.
O início da luta contra a dor
Márcia teve sua primeira crise em 2014, quando sentiu uma dor aguda no rosto, uma experiência que a levou a procurar ajuda médica sem saber que estava prestes a enfrentar uma das lutas mais difíceis de sua vida. “É uma dor que transforma, que transcende o que posso explicar. É como se tivesse uma faca entrando e saindo do meu rosto”, descreve.
O caminho até o diagnóstico correto foi longo e repleto de frustrações. Inicialmente, buscou orientação com um dentista e, posteriormente, com um neurologista. Mesmo com o uso de medicamentos, as crises se intensificaram, levando Márcia a desmaiar em decorrência da dor. “Cheguei a ter mais de 20 desmaios por dia durante os picos das crises”, relembra.
Apesar das dificuldades, Márcia tentou manter uma rotina normal, realizando viagens e passeios com o marido. Porém, a partir de 2020, as crises se tornaram mais frequentes, e a dor impossibilitou que realizasse atividades simples, como dirigir, levando-a a se afastar do trabalho.
Um novo tratamento e a esperança renovada
Após vários tratamentos e procedimentos, como infiltrações e radiofrequência, que só traziam alivio temporário, em março de 2025, Márcia passou por uma cirurgia de neuroestimulação. Durante o procedimento, eletrodos foram implantados em sua medula para regular a sensibilidade do nervo trigêmeo através de impulsos elétricos.
Desde a cirurgia, a qualidade de vida de Márcia melhorou significativamente. “É estranho começar a dirigir de novo, como se estivesse iniciando do zero. Estou um pouco insegura, mas nada que me limite”, afirma. O neurocirurgião Pedro Henrique Cunha, responsável pelo tratamento, confirma que, embora Márcia ainda sinta certo desconforto, os picos de dor intensos cessaram, permitindo que ela retome atividades cotidianas.
Forças que impulsionam a jornada
Além da busca incessante por tratamento, Márcia encontrou forças em três pilares fundamentais: fé, terapia e ciência. Desde o início de sua jornada, ela manteve acompanhamento psicológico e se apoiou na espiritualidade. “A terapia foi essencial, e a fé me ajudou a enfrentar os momentos mais difíceis”, destaca.
Márcia é católica e sempre frequentou a igreja com seu pai. Após a pandemia e a perda do pai, ela passou a acompanhar o marido nas missas, embora nem sempre conseguisse ir devido às crises. “Meu marido criou uma rede de apoio que eu nem sabia que existia, amigos que se tornaram essenciais nessa luta”, conta.
Desafios e superações na luta contra a dor
Para compreender a gravidade da condição de Márcia, o neurocirurgião enfatiza a diferença entre a neuralgia do trigêmeo e a neuropatia. “A neuralgia é menos grave, enquanto a neuropatia é uma evolução que causa lesões mais profundas no nervo”, explica. Apesar do tratamento complicado, Márcia se recusa a perder a esperança, mesmo diante das dificuldades.
Após a cirurgia de neuroestimulação, apesar de ainda precisar de medicações, a professora já vislumbra planos de retornar ao trabalho, onde irá retomar suas funções administrativas. “O caminho foi longo, mas sigo em frente com coragem e esperança”, conclui.
Márcia é um exemplo de resiliência e determinação, mostrando que mesmo diante das adversidades, é possível encontrar caminhos de superação e qualidade de vida. Com o apoio de familiares e profissionais da saúde, ela se reergueu e agora pode vivenciar momentos simples, como voltar a dirigir e retomar sua rotina.