Pouco mais de dois meses após participações de destaque na Copa do Mundo de Clubes, Fluminense e Botafogo se encontram hoje, às 16h, no Maracanã, em partida válida pelo Brasileirão. As duas equipes contam com treinadores que estavam ausentes durante o torneio internacional: Luis Zubeldía, que faz sua estreia à frente do Fluminense, e Davide Ancelotti, treinando o Botafogo por menos de 20 jogos. O que chama a atenção, no entanto, é a crescente insatisfação dos torcedores, agravada pela influência das redes sociais. O pedido de demissão de Renato Gaúcho, ex-técnico do Fluminense, é o mais recente reflexo desse fenômeno que tem impactado o futebol brasileiro em 2025.
A tensão entre torcedores e clubes
Nos dias de hoje, os torcedores parecem estar mais exigentes e intransigentes com suas equipes. As vitórias são cada vez mais necessárias para evitar críticas severas e a assiduidade nas arquibancadas está ameaçada em tempos de eliminações e derrotas. Por outro lado, jogadores, treinadores e dirigentes vivem sob uma pressão constante, amplificada pelo acesso direto que as redes sociais proporcionam. Muitos deles afirmam que as críticas afetam seu desempenho e bem-estar no cotidiano.
— No passado, as críticas eram palavras soltas no ar que se perdiam após o apito final. Agora, com as redes sociais, essas manifestações ficam registradas, ganham escala, se perpetuam e se transformam em pressão constante — afirmou Ivan Martinho, professor de marketing da ESPM, destacando como a dinâmica entre clubes, atletas e público mudou radicalmente.
No Fluminense, o descontentamento da torcida com Renato Gaúcho, embora a equipe tenha se mostrado estável no Brasileirão e avançado na Copa do Brasil, cresceu após a eliminação para o Lanús na Sul-Americana. Nas redes sociais, seu crédito se esgotou rapidamente, levando a críticas severas que culminaram em seu pedido de demissão.
Os efeitos das redes sociais no futebol
Renato não hesitou ao expressar seu descontentamento sobre a pressão que as redes sociais exercem sobre os profissionais do esporte, ressaltando que a situação atual se afasta completamente do que ele conhecia. Ele enfatizou que “nas redes sociais, todo mundo é treinador”, e que essa situação coloca os atletas e técnicos em uma posição vulnerável.
O novo técnico do Fluminense, Luis Zubeldía, também abordou a problemática durante sua apresentação, refletindo sobre a tendência dos torcedores em ignorar opiniões extraoficiais e buscar um equilíbrio com as redes sociais. Ele acredita que mudanças são necessárias para reestabelecer a confiança entre clubes e torcedores.
Botafogo enfrenta reação semelhante
Da mesma forma, no Botafogo, a insatisfação da torcida é palpável em 2025 após a gloriosa temporada anterior, quando o clube conquistou títulos do Brasileirão e da Libertadores. A crítica à gestão de John Textor, que assumiu a SAF, cresceu após ele ser responsabilizado pela má administração que culminou na perda de seis oportunidades de títulos este ano. Apenas 18.500 torcedores compareceram às duas últimas partidas em casa, mesmo com promoções de ingressos.
Textor compartilhou sua confusão sobre a falta de confiança de alguns torcedores, apesar de seu histórico recente de sucesso, e questionou a lógica das reclamações, apontando que o futebol é repleto de ironias.
O papel das redes sociais na exigência por resultados
Embora as críticas e insatisfações não sejam novidade no mundo do futebol, o ambiente digital amplificou esses sentimentos, eternizando descontentamentos. Edison Gastaldo, antropólogo, afirmou que as redes promovem um comportamento radical que não existia anteriormente, ressaltando a necessidade de regulamentação neste espaço. As novas gerações de torcedores, que pagam altos valores em ingressos, são menos tolerantes a falhas da equipe.
— O desafio dos clubes atualmente é equilibrar emoção e racionalidade, desenvolvendo experiências que satisfazem a paixão dos torcedores e proporcionam resultados consistentes. O apoio se sustenta apenas quando existe confiança e reciprocidade — finalizou Reginaldo Diniz, CEO da End to End, chamando atenção para o futuro das relações entre clubes e torcedores em um cenário onde a pressão externa continua a aumentar.
A disputa de hoje entre Fluminense e Botafogo marca não apenas um confronto em campo, mas também um reflexo das pressões enfrentadas dentro e fora dos gramados. Como as redes sociais continuarão a influenciar esse cenário ainda é uma questão em aberto.