Em um dia marcado pela tristeza, mas também pela reflexão sobre as virtudes, recordamos João Paulo I, que nos deixou há 47 anos. Encontrado em seu quarto, segurando um escrito sobre a prudência, o Papa nos deixou um legado inspirador sobre a virtude que é fundamental para a governança e a vida cristã. As suas reflexões mostram o caminho da liderança pautada pela prudência, um tema que moldou não apenas o seu papado, mas também suas mensagens de paz e compromisso com a humanidade.
A prudência como virtude essencial
João Paulo I, conhecido por sua eloquência e sabedoria, descreveu a prudência como a “mãe de todas as virtudes”. Em seus escritos, ele argumentava que essa virtude é indispensável para aqueles que ocupam posições de liderança. A prudência, segundo ele, é a capacidade de discernir e agir com sabedoria em diferentes circunstâncias, auxiliada por outras virtudes como a docilidade e a circunspecção. Ao longo de sua breve, mas significativa, trajetória no papado, ele sempre buscou reforçar a importância de viver de acordo com os valores cristãos.
As “Sete lâmpadas” da vida cristã
O Papa pretendia compartilhar com os fiéis um programa que seguisse o caminho das “Sete lâmpadas” da vida cristã: as virtudes teologais da fé, esperança e caridade, juntamente com as quatro virtudes cardeais: prudência, justiça, fortaleza e temperança. Este programa foi registrado nas anotações que legou à Fundação Vaticana João Paulo I, onde se pode perceber sua preocupação em orientar o rebanho cristão em tempos conturbados.
Influência acadêmica e reflexão sobre a prudência
Em adição ao seu ministério pastoral, João Paulo I teve um forte compromisso com a educação e a pesquisa. Em 1975, recebeu o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal de Santa Maria, no Brasil, em reconhecimento à sua reflexão sobre a prudência. Em seus escritos, ele não apenas discorreu sobre a importância da prudência; ele a humanizou, trazendo figuras ilustres da história e, utilizando o diálogo, reforçou como a prudência pode ser aplicada à vida cotidiana e nas decisões governamentais.
A virtude em ação
Um dos pontos mais significativos de sua reflexão é que a prudência não deve ser confundida com passividade. O Papa, através de sua própria experiência, enfatizava que a verdadeira prudência é um motor que impulsiona à ação. Ele se opôs à ideia de que ser prudente é evitar riscos; ao contrário, ser prudente é agir com coragem e determinação quando necessário, buscando sempre o bem comum e refletindo sobre as consequências de suas ações.
Compromisso com a paz
Um exemplo claro de sua prudência em ação foi no papel que desempenhou nas negociações de paz em Camp David, em 1978. João Paulo I manifestou apoio ao diálogo entre os líderes do Oriente Médio, redigindo uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, destacando a importância da paz e da colaboração em favor de um futuro menos conflituoso. Este gesto é um testemunho de como a prudência e a liderança podem se entrelaçar para promover a paz mundial.
O legado de João Paulo I na busca pela paz
As palavras do Papa, em seu histórico discurso Urbi et Orbi, continuam a ressoar com vigor. Ele clamava por iniciativas que promovam a paz, chamando todos para colaborar na construção de um mundo melhor. Na certeza de que a prudência é uma virtude que deve ser exercida constantemente, ele inspirou gerações a se empenhar pela justiça e pelos valores cristãos, mesmo frente a desafios imensos.
João Paulo I nos ensina que cada virtude, especialmente a prudência, é crucial para uma liderança que impacta positivamente não apenas os fiéis, mas toda a sociedade. Sua mensagem permanece atemporal, convidando todos a reflexões profundas sobre como agir com responsabilidade e discernimento em tempos que exigem coragem e sabedoria.
*Stefania Falasca, postuladora da causa de canonização do Papa João Paulo I.