Em meio a uma nação dilacerada pela guerra civil, a Companhia de Jesus se une a outras entidades religiosas para prestar assistência às vítimas dos conflitos, da pobreza e de desastres naturais. Com o apoio da organização humanitária católica “Missio”, está em curso uma campanha para arrecadar fundos destinados ao auxílio no país. O padre Girish Santiago, superior regional dos jesuítas em Mianmar, narra a realidade dramática que a população enfrenta.
Contexto da crise humanitária em Mianmar
Milhões de pessoas estão fugindo de Mianmar, enfrentando uma luta diária pela sobrevivência. A violência generalizada gerada pela guerra civil, que começou em 2021, foi intensificada por inundações e um forte terremoto, complicando ainda mais a situação humanitária. Crianças, idosos e pessoas doentes vivem em condições de medo e privação, e muitos centros religiosos, como igrejas e templos, também se tornaram alvos de violência e destruição.
Alimentos, abrigo, medicamentos
Os jesuítas, em colaboração com outras instituições religiosas, estão ao lado da população mais vulnerável. Padre Girish destaca as necessidades urgentes: “Os deslocados da diocese de Mandalay e as vítimas das enchentes e terremotos precisam de alimentos, abrigo, medicamentos e, acima de tudo, apoio emocional”. Desde março de 2025, a equipe jesuíta tem coordenado ajuda na região, especialmente após o devastador terremoto que resultou em milhares de mortes e muitos desabrigados.
A realidade dos deslocados internos
Atualmente, Mianmar conta com cerca de quatro milhões de deslocados internos, incluindo diversos grupos étnicos e religiosos que fugiram da guerra e das calamidades naturais. O padre Girish enfatiza que “a ajuda é destinada a todos os necessitados, sem distinção de religião ou origem, trabalhando em conjunto com várias comunidades, incluindo budistas e muçulmanos”. Essa colaboração inter-religiosa é um testemunho do valor da dignidade humana, um princípio central na Doutrina Social da Igreja.
Em uma mensagem profunda, o sacerdote enfatiza o conceito budista de “mindfulness” ou “plena atenção”, encorajando todos a desejarem paz para todas as nações e criaturas. Ele afirma: “Como homens e mulheres da Igreja em Mianmar, saímos de nossas igrejas para ir ao encontro das pessoas. Nosso objetivo é atender às necessidades de cada um”.
Educação como caminho para um futuro melhor
Além da assistência imediata, os jesuítas também estão focados na educação como um meio essencial para um futuro melhor. Programas educacionais, incluindo aulas em campos de refugiados e ao ar livre, fazem parte do trabalho da Igreja. “Nossos centros atuam como verdadeiras escolas de paz, onde trabalhamos em conjunto com outras comunidades e organizações”, explica o padre Girish, ressaltando a importância de formar indivíduos conscientes e promotores da paz.
A esperança de reconstrução
O padre Girish, que vive em Yangon desde 2016, testemunhou o início da guerra civil e os efeitos devastadores da pandemia de COVID-19 e desastres naturais. Apesar de todo o sofrimento, ele não perdeu a esperança: “A esperança é que, um dia, Mianmar possa reconquistar o que chamávamos de ‘Shwe Myanmar’, o Mianmar Dourado. Embora o país esteja devastado pela guerra, acreditamos que a paz um dia triunfará”.
Missão humanitária e o papel da Igreja
Com uma população cristã que representa apenas 6% do total, Mianmar é palco de uma guerra civil sangrenta. A junta militar está em conflito com várias facções de resistência, principalmente em regiões onde a violência se intensifica contra comunidades cristãs. O Papa Francisco tem pedido orações pela paz no país e pela proteção dos oprimidos.
Campanha de outubro, mês das missões
Em outubro, o padre Peter Girish e outros representantes de Mianmar estarão na Alemanha participando da abertura do “Mês das Missões”, organizado pela “Missio Aachen”. Durante esse período, serão arrecadadas doações para apoiar as obras da Igreja no Sul do mundo, com a coleta das doações se estendendo até o Dia Mundial das Missões, em 26 de outubro.
Com a colaboração de várias comunidades e organizações, a missão continua, alimentando a esperança de que um dia a paz prevaleça em Mianmar.
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